Dá-me uma razão aparente,
um motivo convincente
pra me fazer mudar.
Desfazer-me de mim,
ser camuflada e ruim,
traçar meu próprio fim.
Por que não posso ter
o destino que se me atrela
se minh’alma aberta revela
o enredo de meu filme
projetado por detrás da tela,
visto por ninguém.
Ninguém sou eu também.
Por que calar o meu verso
se nele me refaço,
com ele sou universo,
nele morro e nasço,
percorro terras, voo, me acho.
Por que mostrar meu reverso,
o vazio se instalou aqui dentro
e o mundo que adentro
tem o não que me impuseste
e o teu poder de decisão.
Dize-me o porquê do não,
mostra-me tua razão,
convence-me a mudar
e tu serás o tema
da mais insonhável utopia
pranteada num poema.
(Carmen Lúcia)