MUITO, MUITO ANTES...

Não tenho casa...

Vago pelo espaço

como fosse um retesado arco

a lançar a flecha da busca

atrás do espírito que corusca

entre estrelas cintilantes,

muito depois de saber sentir,

muito, muito antes...

 

Tenho morada

onde guardo palavras

que se abrem a outros sentidos,

soltas, não em vidros,

não são borboletas capturadas,

são insanas, caladas,

são tudo ou quase nada,

por perto a todo instante,

muito, muito antes...

 

Ter ou não ter

só depende do que se quer reter

entre as mãos que apanham fagulhas

vindas de outro coração que borbulha

suas ondas de imensa vontade,

sob o signo da paixão

tão vasto e delirante,

muito, muito antes...