PIQUENIQUE INVADIDO

Marcham amarelas
Marciais carnavalescas
Formigas amarelas
Ocupando o quintal
A toalha e a cesta.
Centenas...
Milhares...
Mordidas e,
Embora não famintas,
Invadem e se instalam
Nos frutos, nos frios,
Nos pães, nos bolos e geleias,
Atrás de açúcar, trigo, gordura,
Do sangue, da cabeça e das entranhas
De quem estendeu a toalha,
Gelou a jarra,
Fatiou queijo e presunto
E besuntou a torrada.
São amarelas, tagarelas,
Rasgam estrelas,
Amassam panelas...
Exército ocupando o piquenique.
Não há formigas vermelhas,
Formigas marrons ou negras,
Também não há formigas magras,
Apenas amarelas,
Bojudas e vingativas
Em oposição ao que não é amarelo,
Em ofensiva a outros insetos,
Pombos ou ratos
Que aproveitam a situação
Para rapinar uma fatia.
Vorazes, ocupam a toalha xadrez
Instaurando ali sua vez,
Transformando piquenique em formigueiro,
Observado à distância
Por pasmos olhares
E bocas e dedos lambuzados de sonhos
Devorados há tempos.