Entre armaduras e fortalezas ele habita nosso teto com goteiras
Diz ser possuir a ‘’virtúde’’, a verdade, a lei, o bem e o mal
Tal poderosa criatura da mitologia e de livros de poder
Existe desde quando resolvemos nos manifestar
Por ordem e progresso precisamos de sua presença
Muito saturada, ao mesmo tempo imperceptível
Aos apáticos excluídos, sem proteção, nesse mundo cão
Pegam em armas, mesmo não cabendo a eles tal função
Isso incomoda, sangue jorra, livros se rasgam, guerra declaram
Tentáculos revidam. Ordem! Trazendo paz, com chumbo e muito gás
A riqueza da nação empobrece na máquina pública
O onisciente sabe da notícia, antes que ela se publique
Ele vê como privado o que de fato é público
Toca a nota mais aguda em meio à desarmonia crônica
Com sua maestria exímia continua a encantar o público
Mesmo enjoados dessa melodia, não cansam de a canção acompanhar
E se deslumbrar do grande desfile, a guarda nacional marchando
Ostentando o lindo brasão, isso me faz esquecer o que devo sonhar
E até mesmo parar um pouco de pensar
No preço que devo me vender para ter o poder de poder me comprar
Toda onisciência se alimenta de nossa ausência
Os jornalistas foram presos, mas é por nossa segurança
Escolhe nossas roupas, mas é por questões estéticas
Não liberam o atestado, mas é por questão de ética
Distribuição de renda, compreenda e se renda
Com sangue selamos o contrato social
Fábrica de ossos, que cobrirão a arena
O Estado ouve a voz do povo, mas a voz do povo é o mero eco do Estado
Cujos tanques discursam em praça pública, na maior paz celestial
Em que a juventude cresce e obedece para quando morrer chegar ao céu
Em que a juventude faminta cresce para alimentar a fome
Do grande Leviatã sempre no libidinoso cio
Voraz voraridade violenta nossa mãe gentil
Que dará a luz a puras meretrizes, para seu sacro bordel
À moda antiga, Império Romano, cujas feras não há quem dome
No Coliseu, após a atração, um menestrel
Usando Sheakespere, com palavras de Goebbels, intenção de Maquiavel
Mas o que importa quem são eles? Já que todos sabemos ler o jornal
A banda está tocando, estrelas brilhando, ópio disponível e eu cá rezando
Para que nenhum Locke varrido nunca Hobbes minha pax