Em meio de minha tribo
Nasci com uma pretensão
Pertencente a meus pais, como diz a tradição
Apesar de nem eu a conhecer
Só sei que tenho que ser doutor, formar família e casar na Igreja
Mas hoje fomos para a cidade, vida nova, êxodo rural
Êxodo real, estando em todos os lugares, mas nunca onde realmente estou
Minha vida era um encontro amoroso e amargo, com o local e a razão
Encontros atuais em que não precisamos comparecer pessoalmente
Parece contradição, paradoxo ou pleonasmo, sendo online e nunca ao vivo
Agora as guerras já não precisam de exércitos nem de territórios
Não precisam nem mesmo chocar a televisão, em que ainda rola a bola
Agora Cuba abraça os EUA e pede Coca-cola
Enquanto a China abre suas muralhas
Deus está morto, Karl Marx em coma, e eu não estou me sentindo bem, nesse armazém de nada para se fazer
Sem contar a loucura saiu dos sanatórios
Tornou-se uma lei daqueles que não se adéquam à realidade líquida
Nós vivemos para que? Já que os valores das ideias adquirem um baixo preço
Que sempre observo e cobro, antes de me vender para comprar sem apreço
O enlatado, o descomível, o cancerígeno da indústria frágil
Que se expande como um gás na câmara
À luz da ação racional e da câmera
Em vídeos já cansados de replays
Que só são assistidos no primeiro dia em que são postados
Para depois se dissiparem em meio a tanto byte da rede, eu sei
As canções cantadas já não são mais compostas
São dispostas na grande prateleira do mercado
Cuja mão invisível escolhe, agarra, lança e joga na rádio
Que o povo ouve bestializado e aceita de modo absoluto
As onomatopéias acompanhadas de vis ruídos
Enquanto seus ouvidos ficam cada vez mais obsoletos
O que será dos velhos versos e nobres sonetos?
Cadê a representação popular verdadeira de cada nação?
Subornada pelas taxas protecionistas do Império Absolutista da aberração
Avante underground, contra o efêmero modismo, verdadeira revolução cultural
Diferente de Mao Tse Tung, é claro, sem fuzil, sem sangue, só por comunicação
Para defender e preservar a reserva em que se refugiam as raízes
Se a Bastilha se atualizou no formato 157, travestindo a bandeira da paz e da ética
E atacar com armas de gás, de comida e de democracia sólida
Poderemos contra atacar sem tal hipocrisia com a guerrilha líquida!