O ciclope acordou

Olho por olho dente por dente, ninguém vê que essa é a lei de um mundo cego

Uma brecha de lei para julgar com o ego

Sem olhos, sem dentes, mas mastigando sem embargo

Engolindo a seco a vida dissabor amargo

O gigante dormiu e o ciclope acordou

 

Balas perdidas, balas de amor

Disparadas pelo próximo acertaram o coração do criador

Pacifistas rizospásticos em descontentamento

Pregando paz no pelotão de fuzilamento

Tiro dado, munição estilhaçada, estampido ensurdecedor

Pedaços voltam e furam os olhos do executor

Cujos risos e alívio regeneram tal lesão

Isso é para o nosso bem, em nome da paz do bom cidadão

 

Tiro dado, barulho ensurdecedor

Difratando pelos tímpanos como uma canção de amor

O irmão gêmeo do ódio, que pode ser filho do medo

Corrompe nossa juventude, degenera nosso deus

Prendendo a gente em prédios e condomínio fechados

A falta de luz do sol desnorteou o nosso relógio biológico

Não sei que dia é hoje, se é noite ou dia, só sei que amanhã tenho que acordar cedo

Menino volte pra dentro, a gente ruim ta lá fora, não quero sangue na minha fachada

 

Olho por olho dente por dente, ninguém vê que essa é a lei de um mundo cego

Uma brecha de lei para julgar com o ego

Sem olhos, sem dentes, mas mastigando sem embargo

Engolindo a seco a vida dissabor amargo

O gigante dormiu e o ciclope acordou

 

Geração míope, chorando o leite derramado

Protege os olhos com seus óculos grossos

Rindo a mais uma crucificação diária

Um cassetete é um chicote para o tronco histórico

Uma mordaça fétida para gritos histéricos

Será só na França a conspiração dos iguais?

Fátima a cada dia derruba uma lágrima salina de sangue pisado

Pois vê que o sol não nasce intensamente para todos

 

Guerra de todos contra todos

Para que nos serve o Estado?

Estando o mundo nesse estado

Com letra maiúscula ou minúscula não garantem nossa paz

Sem pão no povo bate a fome, mas ainda resta muito circo

Quando bate a sede, sobra muito vinagre fervente

Mas os famintos não lincham os deputados, como ensinam no jornal

Com um olho só vagando por aí, a pensante justiça na terra alviverde jaz

 

Olho por olho dente por dente, ninguém vê que essa é a lei de um mundo cego

Uma brecha de lei para julgar com o ego

Sem olhos, sem dentes, mas mastigando sem embargo

Engolindo a seco a vida dissabor amargo

O gigante dormiu e o ciclope acordou