MALIGNO

 Muito a fazer,
Tanto a dizer...
Olho no olho,
Na cara de todos,
De ninguém...
Arrancar a verdade de quem
Se mostra todo inocente
E sacudi-la,
Lá de cima.
Chover a verdade que falta
Da nuvem mais alta,
Ensopando as máscaras,
Derretendo-as...
As máscaras, embora frágeis marzipãs,
São também quase eternas,
Rebeldes Titãs.
 
Haverá, então, gritos de horror
Nascidos nos céus, dos Deuses do Norte,
Dos Guardiões dos Portais,
Quando virem as válidas faces,
De feições reais
(Praticamente iguais)
De homens, mulheres, crianças até!
Criaturas sem piedade...
Mesmo os anjos perderão a fé
Na humanidade.
 
Os deuses queimarão seus livros,
Abrirão suas caixas, suas garras,
Soltarão seus bichos...
 

As faces! São grotescas demais!
Exalam, sepulcrais,
Cheiro de morte dentro da Morte.
 
E se alguém que me lê, um só que seja,
Conservar na alma alguma beleza,
Beleza que não se foi por um triz:
Forja uma máscara,
Atroz, feroz, horrenda
E a pregues na cara
(Criatura Infeliz!).
Mira-te na água,
Prepóstero Narciso,
Contempla tua feiura,
Transforma-te nessa figura
E sejas também maligno.
 
Assim, pelo menos,
Quando muitos dos outros,
De expressão oca e dura,
Roubarem teu riso,
Saberás o motivo.