Parece te agradar meu brusco pranto
cerrando minha face à tua imagem,
e, mesmo a me afastar-te num quebranto
pareço ter em ti minha paragem!
Oh! Nada além de ti eu quero tanto,
porém tu só me deste esta saudade!
Parece te agradar a dor de um canto
e não haver em ti qualquer bondade.
A noite já me encobre como um manto,
a lua já me tem sempre em sondagem,
vagando pelas trevas mudo enquanto,
respira o frescor da triste aragem.
Quem dera se eu pudesse ser um santo,
não ser mais um na tosca humanidade.
Quem dera... se esfumasse-me o quebranto,
se tu não fosses apenas saudade!
Parece pressupor um acalanto
tão manso quão no ermo a fresca miragem,
que mesmo ao repoisar banhando em pranto
terei no coração a tua imagem.
Como segar na vida tanto encanto?
Como não desejar-te a mocidade?
Um dia vou cansar p`ra teu espanto
e em risos despertar na eternidade!
Um dia saberás, criança, o quanto
vale ser do viajor uma paragem,
o quanto é bom ter na essência de um pranto
o amor - esta celestial mensagem!
Talvez irás me amar, pois quero tanto;
Quem sabe não serás minha verdade!
É bom sonhar debaixo deste manto,
é bom cismar em ti, luz que me invade.
ALEXANDRE CAMPANHOLA - 19/02/2006