“E quem conta estórias
vive várias vidas numa só.
Afonso Romano de Sant’Anna”
Creio que todos, sem exceção, tentam fazer sempre o melhor, em se tratando do ofício literário.
No meu caso, de autodidata, isso é um exercício permanente. Não me contento em simplesmente escrever alguma coisa e pronto! Não. Fico bisbilhotando outras formas de dizer aquilo que desejo passar. Se um determinado assunto fica melhor num poema ou conto ou crônica, e assim vou experimentando os meios que melhor se apresentam para o tema dado.
Às vezes confiro a quantidade de certificados, diplomas e declarações de oficinas, cursos e congressos dos quais já participei, na tentativa de pesquisar as formas literárias sobre conto e crônica, dos quais, não raro, saí frustrado, pois esperava demais dos “MESTRES”, na busca da solução, da panacéia, da pedra filosofal na arte da literatura. Às vezes, noto que a maioria não tem mesmo caminho nenhum a oferecer a ninguém e suas iniciativas não passam de “arapucas” pra pegar trouxa e tomar dinheiro de idiotas caçadores dos mapas do tesouro.
E foi por perceber “isso” em grande parte dos “cursistas” que passei a pensar por mim mesmo, a decidir que a forma de dizer algo sobre determinado assunto se torna ARTE não pela quantidade de papel gasto para escrevê-lo, mas pela artimanha narrativa utilizada pelo autor, tornando o conteúdo atraente para o leitor. Aliás, essa arte de dizer é muito patente em Machado de Assis, considerado, ainda hoje, 175 anos após seu nascimento, o nosso maior exemplo de narrador, e, por incrível que pareça, um medíocre poeta parnasiano. Pode?!
Bom, não costumo apresentar fontes consideradas influências literárias, mas sempre gostei de ler aqueles caras que nunca foram encontrados na lista dos Best-sellers. Há um livro, possivelmente raro entre as antologias de contos, intitulado Os mais Brilhantes Contos Brasileiros, que levou-me a desconfiar dos “teoréticos”, impostores de escolas literárias, gente que vive às custas de determinados modismos no mundo das letras. Nesse livro, eu encontrei um esclarecimento a respeito de conto que, para mim, resolve o problema, diz o que é qualidade narrativa, mostra a importância de construir uma boa trama, apoiada numa argumentação eficiente, sem mais-mais. E prova essa sugestiva com um causo popular sobre “Aprendiz de Feiticeiro: Havia, certa vez, um homem que desejava, a todo custo, ser feiticeiro. Passou meses e meses inclinado sobre tratados de magia. Por fim, logrou ser admitido na Academia do Grande Arcano. Isso, porém, a custo de muitos pedidos e de insistentes rogos, pois as vagas eram poucas e os candidatos muitos.
O curso era rigoroso, mas nosso aprendiz de feiticeiro estudava com afinco. Admissão...Primeiro ano...Segundo ano... O estudante ia sendo promovido de classe em classe. Afinal, chegou o grande dia da Grande Iniciação, na qual os alunos seriam submetidos à prova suprema do Rito de Caravaca. Perante a banca examinadora, porém, nosso herói embatucou.
- Mas é incrível! Exclamou o presidente da banca.
- O senhor, um aluno tão aplicado, que fez tão belo curso, agora fracassa! Nem parece feiticeiro!...
- Vossa excelência tem razão... – Balbucia o examinando. – Sim, não sou feiticeiro... Mas tinha tanta vontade de ser!...
- Como?! Exclama os membros da banca, sobressaltados. Um silêncio de morte reina no salão por alguns segundos. Por fim o presidente explode:
- Mas que ousadia! Então o Sr não é feiticeiro!... E se o Sr não é feiticeiro, de que lhe adiantaria o curso?!...”
Depois dessa, nunca mais freqüentei cursos literários, convencido de que QUEM É ja nasce feito e me concentrei em ouvir meu avô paterno, um contador de causos que reunia platéia, com todo mundo sentadinho de olhos pregados nele e ouvidos atentos.
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