Fogo, esse inferno

Arde nos olhos, na alma,
Árvores nuas e disformes,
Deixando sinais de dor,
Fogueira que não acalma.

Num tempo avassalador,
Sem tréguas nem piedade,
Devora montanhas e vales,
A obra-prima do Criador.

Nuvens cinza cor do estanho,
Labaredas crepitantes,
Galgam aldeias e vilas,
Cercando casas e rebanho.

Na sua voragem e alucinação,
Lega a miséria na população,
Que pede ao céu perdão,
Sem tão-pouco saber a razão.

No rescaldo, e ainda a quente,
Fazem-se as contas por alto,
Das mortes e danos causados,
Pelo maldito fogo refulgente.

Lisboa