Cemitério, Velhice, Poesia



Cemitério

Olho o tempo, escuto o riso
que a tua boca
desmonta em felicidade.
a vida te eleva, levando
como o vento em dias alegres
carregando folhas de outono.

exprimo em poemas
a arte de fazer poesia,
de repente trono-me Drummond,
de repente ganho a mortalidade,
sinto-me poeta. a morte
rizonha caminha
olhando com olhar súbito;
tem um encontro marcado
comigo num futro próximo.

a noite que se arrasta
no espaço livre
beija-me o corpo
como se tratasse de um morto
a desejar o enterro...
é pequeno o meu mundo
e, cabe num poema
e num cemitério.

Sousa tavares


 


 

Velhice

A este inverno maldito,
Como fora vida de Ducasse,
nele espero honestamente
com a fama de poeta
a morte que não beija,
peitos dos imortais.

nenhuma esperança
em dia algum puderá,
enleiar-me esta vida;
a herança de Camões.

no passado fica a sina
da vida e, na língua
canta com os anjos de Pessoa
a tua arte enrugada,
e a triste inquietação
da morte.

a única forma de dar
a conhecer a tua fama,
é eu ser-se poeta.
a tua presença, essa forma
enigmática, esse deserto raxado,
com variedades formas
de belezas, é um olhar de morte
menina. teu gesto jamais
será novo como um poema
de Verlaine que encontro.

Sousa Tavares


 


 

Poesia

Não sei se quero ser Deus
nesta terra morta,
onde Rimbaud
ganhou vida de artista
contemplado.

morrer não é ser louco.
ser-se Deus, talvez, sim.
Deus que é antigo
inveja nos poetas
a arte de fazer poesia,
essa perpétua sabedoria
que Camões soubera,
de forma justa dividir

para os seus descendentes.

artista, arte, poesia, poeta
não passam de invenções
humano, para os fazer crer,
que ninguém vive só,
com a vida que leva
presa como um fardo.

conheço o desejo de amor;
os anjos de josé régio
canto-o vivamente,
ridicularizando-o a ideia
de eternidade.

Sousa Tavares

simples e derteminado
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