Cantei o amor e a criança,
Cantei a dor, a esperança.
Cantei sorrisos, cantei flores,
A chuva fria, a lua cheia,
O coqueiral,
Minha cidade Natal.
 
Cantei a lágrima e o outono,
O dia de natal
O fim do ano...
 
Cantei as dunas, a humanidade
Cantei também a amizade.
 
Cantei o tempo e as cigarras,
Os cajueiros,
As folhas levadas pelo vento.
Cantei rochedos,
Decepções,
As nuvens e a espuma do mar,
O horizonte infindo
E o meu mar tão lindo!
 
Cantei cantigas de roda,
Uma estrela pequenina,
As noites de São João,
O menino pobre a soltar balão,
O varredor de rua
A sorrir pra lua
E o homem a dormir pelas calçadas.
 
Cantei  o carrossel, seus cavalinhos,
As noites tristes, os dias de inverno,
O Potengi não poderia esquecer,
Cantei você.
 
Eu cantei tudo e cantei tanto
Que cantei o pranto.
Em tudo que eu via tinha poesia...
 
...Hoje sinto
Que meu canto emudeceu.


 


Último canto foi a última poesia de minha adolescência; é uma homenagem a todas as poesias escritas até eu entrar na universidade, então emudeci durante mais de três décadas.
Nair Damasceno
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