O ACERTO POR VIAS TORTAS ( conto erótico)

O ACERTO POR VIAS TORTAS  ( conto erótico)

 

 

 

Alumiel afrouxou a gravata, o olhar perdido na vidraça a avistar o nada, daquele 10º andar. Eram 16 horas, logo mais o expediente estaria encerrado, sexta-feira. Teria mais um final de semana para desfrutar do descanso. Entediado, via os dias correrem céleres, inexpressivos e iguais. Algo que incomodava pela falta total de qualquer incômodo , funcionava como os ponteiros do relógio, algo previsível, rotineiro, repetitivo. Chegariam em casa, tomaria uma ducha, talvez um aperitivo ou uma cerveja, falariam amenidades, obviedades. Possivelmente assistiria o telejornal, depois um programa televisivo qualquer, sempre de preferência da esposa. Casados, sem filhos, ela funcionária de outra repartição, colegas no funcionalismo público, marido e mulher no interior daquelas paredes. As vezes se surpreendia olhando a companheira, a escolhida para ser a sua parceira na existência, e então cedia à imaginação luxuriosa, dando asas aos instintos mais sensuais, esdrúxulos, bestiais. Entretinha-se nessas divagações profanas, tão arredias de seu comportamento usual, respeitoso. Mas era um universo restrito, imaginado, inescrutável a terceiros, fantasias colorindo o ritual de uma relação mediana, inapetente de atrativos. Nesses instantes percebia-se excitado, porém incapaz de confessar a amada seus intentos, como se policiasse a si mesmo não aceitando seus desejos. Embaixo do chuveiro, em sua excitação estimulada descarregava suas tensões, crendo-a escrava e senhora de suas sensações. Amava a esposa, mas a desejava mais livre, solta, permissiva, algo que apimentasse a vida de ambos. Havia um excessivo respeito entre eles, mesmo na intimidade do casal. Aquilo era um banho de água fria, uma rotina implacável, tão insossa como a de dormirem simplesmente lado a lado. De formação religiosa severa, conheceram-se como freqüentadores de uma igreja protestante, embora já distantes de qualquer religião, reputava a isso a inabilidade dela para as coisas mundanas, inibido de revelar a ela suas intenções mais ousadas. Não queria de forma alguma constrangê-la em seus escrúpulos, fora o primeiro homem a tocá-la. Por Interessante e contraditório por isso mesmo a tinha em veneração, tão pura e pudica. Aos poucos, via-se solitário na vida a dois. A desejava com outros olhos e intentos, a tinha como sempre, igual e morna, como os ponteiros daquele relógio, a lembrá-lo que o expediente terminava, exaurindo mais uma semana.


Beijaram-se, num cumprimento trivial, beijo selinho, como era de praxe, ao se encontrarem na saída do edifício, visto que trabalhavam próximos, em prédios diferentes, quem saísse primeiro esperava pelo outro. Caminhariam juntos até a estação de metrô próxima. A noite quente e convidativa os levou a terem uma idéia que fugia à rotina. Iriam para casa, e depois sairiam de carro, buscando um lugar acolhedor para passarem algumas horas. Os olhos de ambos, como crianças, brilharam. Por certo, ambos desejavam usufruir aquele clima noturno tépido, sem compromissos e horários.


Riam e conversavam sobre assuntos diversos, como enamorados. As horas se consumindo, quando resolveram  buscar a praia próxima, ver o mar.

A brisa amena da noite, os sons vindos da água batendo nos recifes, tudo tranqüilo a orquestrar aquele momento idílico. Àquelas horas, a paisagem deserta era toda deles.  Sentaram-se na areia, enlaçados a ouvirem os murmúrios das ondas...

Entretidos naquele cenário fascinante, alheios e distantes, não se aperceberam da aproximação de dois homens, vindos do nada, sorrateiros. Instantes precisos para se darem conta do perigo, já inevitável. Presas inocentes encurraladas por insidiosos personagens noturnos e perigosos.


Pulsação em descompasso, atendeu aos apelos dos intrusos, entregando a carteira e o relógio. Ela retirava uma pequena pulseira e os brincos, lembranças dos tempos de namoro.

Tudo acabaria assim, um simples assalto, encerrando aquele desconforto e susto. 


O semblante assustado e súplice da mulher atraíram a atenção de um dos homens, a sua beleza se salientava de forma perigosa, ensejando outros interesses além da posse dos objetos entregues. O marido quis argumentar algo, desviar a atenção, mas foi imediatamente manietado pelo outro. Em acerto rápido, um deles ficaria com os pertences roubados, em troca de segurar o marido enquanto o outro ficaria com a esposa.


O desespero dela, recuando ao afago, foi interrompido ao ver o esposo amordaçado por uma gravata pelo outro meliante. Alumiel estava imobilizado a olhar aquela cena.


Paralisada na reação, tendo o marido como refém,  esperou pela iniciativa do intruso, a apalpá-la de forma inconveniente e abusada.

O rapaz a encarou de frente, buscando acariciá-la, vertendo desejos. Em gestos que verbalizavam suas lascivas intenções. A ação em si, de violência, ocorria de forma contraditória e suave, sem gestos bruscos e brutais. Buscou-lhe a face, embevecido, como se sentisse com os dedos as lágrimas copiosas que desciam daqueles olhos doces e assustados. Pediu-lhe que soltasse os cabelos, soltos e levemente movidos pelo vento brando. A enlaçou, apalermada, sem defensivas. Abraçado a ela, trêmula, desceu o zíper do vestido claro, pondo-a quase nua. Os seios  sobressaíram, e o corpo claro, talvez ainda mais saliente pela lua cheia, a desnudá-la, inteira e bela.


Aos olhos incrédulos do marido, as cenas ocorriam como em filme de terror, incapaz de qualquer reação, assistente do abuso contra a própria esposa.


Com o vestido caído, a deitou, nua, sobre o tecido, enquanto se despia demonstrando seu apetite no membro teso e pulsante. A palmilhou pela tez toda, vasculhando com paciência todo aquele corpo perfumado, exposto a seu bel prazer. Sussurrou obscenidades aos ouvidos, e fez com a língua um trajeto que desceu das orelhas, mordiscadas levemente, pelos dois mamilos, surpreendentemente túgidos, excitados. Sentiu o agressor a correspondência do desejo, sorriu  mudo e sarcástico. Os lábios se encontraram, sem resistências, e voltou a descer a mordendo suavemente, dando-lhe estremecimentos e arrepios, os espasmos dela, denunciavam-na   entregue e possuída pelo macho. Abriu-lhe as pernas, retirando-lhe a calcinha e a explorando sequioso feito uma serpente, a sugando, prelibando com o clitóris, a levando a um êxtase inaudito. Aceita e dominada, arfava agarrando-se naquele estranho, cravando suas unhas em suas costas, antegozando a penetração, as pernas entrelaçaram a sua cintura, comungados em frenesis e delírios.


Colocada, passivamente, em posição de quatro, e com as mãos separando as maçãs dos glúteos,  e encaixando seu membro, em vaivens ritmados e calmos, buscando penetrá-la, vergastando suas entranhas em suspiros de tesão. Como animais no cio, nimbados pela luz lunar deslumbrante, o coito se realizava prazerosamente. Não fora a situação inusitada, dir-se-ia o encontro de dois amantes apaixonados.


Aos olhos do marido descortinava-se uma fêmea desconhecida, como sempre a desejou. E, estranhamente, vibrava sem querer acreditar em si mesmo, com o espetáculo que se desenrolava a sua frente. Pensou em fechar os olhos, mas não conseguiu, percebeu-se, constrangido, a  excitar-se com aquilo. Seu órgão genital se agigantava sob as calças, apesar do desconforto da pressão exercida pelo comparsa a mantê-lo imóvel.


Retornada à posição, deitaram, beijando-se demoradamente, momento em que ela, abaixando-se sobre o corpo do agressor, procurou-lhe o membro ainda ereto e o mordeu delicadamente, e com avidez, buscando-lhe o saco escrotal, o lambia, engolindo, em repetidas vezes, o pênis, até que o mesmo novamente ejaculasse...


O suor frio nas têmporas do marido infelicitado pela relação rotineira com sua esposa, mal acreditando em tudo aquilo, incapaz de conseguir se conter, também ejaculou nas próprias vestes...


Foram deixados nus na praia.


O casal vive feliz, amando-se como nunca, esquecidos daquela relação rotineira e sem prazer que desfrutavam...

( inspirado pelo centenário de nascimento do mestre Nelson Rodrigues)