DE LUIZ HUMBERTO
  
Sob o céu estrelado
abre-se a lona do circo
ostentada pelo mastro aprumado
abrigando artistas, platéias e animais.
Nas arquibancadas, nos camarotes, agachados
ou em pé pelos corredores, corações palpitam angustiados
pelo medo do trapezista, mas ele, o trapezista, tenta controlar-se
com a intenção de tranqüilizar a platéia.   E a platéia em silencio,
pede que o trapezista pule.    Vai que dá! Pula! Pula!! Pula!!!
Confiante em suas manobras e agilidade e procurando não
decepcionar a galera, o trapezista em momento algum
hesita e... pula. Como tantos outros pulos da vida.
Sob a lona que o céu abriga, o povo apruma-se
agitado e faz do espetáculo, bálsamo para os
seus anseios e naquele momento mágico,
numa fração de segundos,    um estalo
cala a voz do povo. Mutez total. Só
bocas entreabertas num silencio
infinito.   Olhos arregalados
voltados para a indignação.
Respirações antes ofegantes, agora param por segundos eternos.
Corpos pesados parecem levitar junto à alma do trapezista que antes nunca errara o cálculo entre a distância e o tempo que levaria suas mãos até as mãos seguras de seu parceiro. As lonas do circo parecem abrir dando passagem honrosa à alma do artista que por um erro de cálculo, parte decepcionado consigo mesmo para o céu estrelado, não se perdoando por também decepcionar seu fiel público.
Lá embaixo, o circo fecha suas portas e anuncia numa velha placa. –“Fechado por motivo de luto. Não percam amanhã,  o novo trapezista e seu salto mortal!”        
L H S     23-04-2001
 
 
 

LUIZ HUMBERTO
© Todos os direitos reservados