FLORES DE SEXTA FEIRA

O cansaço descia quase dormindo a escada rolante
quando ouviu alguém anunciar
numa voz rouca meio canto meio grito
- Olha a rosa! Tem rosa vermelha, tem rosa branca!
Uma jovem com crucifixo branco no pescoço
trazia nos braços um buquê de rosas coloridas
As indignadas interrogações contra a brutalidade do sistema
desciam as escalas ao seu lado e tomaram-lhe:
O que alguém faz vendendo rosas
no meio da multidão da rodoviária?
Flores dadas por humanos me lembram velórios
me lembram casais apaixonados de antigamente
O que aquela pobre alma fazia ali
no vai-e-vem das dezoito horas
Vender flores?
Quem manda flores hoje em dia?
Só Zeca Baleiro em seu telegrama
(...)"hoje eu acordei com uma vontade danada
de mandar flores ao delegado" (...)
Então pensei comigo em como seria triste o dia
que eu tivesse que comprar flores para o velório
de minha amada mãe
seriam as flores mais feias do mundo
E mesmo que não fosse esse o motivo que levasse a moça
a vender flores em pleno fim de tarde de sexta-feira
dei-lhe apoio
- Dê-me uma rosa vermelha!
- Só uma?
- Não, eu vou levar duas,
a vermelha é para minha mãe e a branca é para você
por estar aqui em pleno fim de tarde de sexta feira
vendendo flores
A moça sorriu e colocou a rosa no meio das outras
que segurava para vender
E eu parti levando a rosa de minha mãe no meio da agenda.

Brasília

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