Vindo de lá
Dos lados de lá,
Matuto.
Do mato
Veio pra cá.
Do riacho.
Do ranho de palha,
Chapéu de palha,
Cigarro de palha do milho.
Nos olhos, o brilho
Da familia pra cuidar.
Com a cidade, não sabe lidar.
Sentado no chão da esquina,
calçando botina,
mãos calejadas
do cabo da enxada.
Como doi!
ver o vaqueiro,
vaqueiro cowboy,
Da pele morena
saudade da casa,
Da moça morena
Da reza novena.
Dor.
Dor no peito,
Dor,
Do manso remanso, do rio que passa
no meio da colina,
de águas cristalinas.
Olhar das meninas.
Cowboy do asfalto,
olhando pro alto
Debaixo dos arranha-céus
Sem graça.
só vê fumaça,
dos carros na praça.
seu mundo mudou .
De lugar
piorou,
acabou,
voltar pro sertão?
sendo certo ou não?
O que era pouco faltou
O dinheiro acabou
mas como voltar?
se veio de lá?
sem trabalhar,
se mal consegue se alimentar
como voltar?
-É, sertanejo bruto.
Bruto é o sistema.
Bruto demais,
trate de votar
Ou logo verá,
se tiver tempo verá.
Bem devagar.
Que poucas chances terá,
um barraco pra morar;
impostos a pagar;
(muitos impostos.)
pra beber;
comer;
dormir;
até pra partir
se ainda pode ir.
E antes do amém
verá também,
que está preso a alguém.
Mesmo maginalizado,
você é parte do estado
Do mostro estado.
a ele, estarás acorrentado
de pés e mãos, amarrados, atados!
como se fosse gado.
lembra-te do curral fechado?
à ferro, marcado!
a marca do patrão!
o dono da situaçao.
Pois é.
aqui na cidade
usa-se Cpf e identidade.
e a marca é mais discreta,
mas a vida é de gado.
e se quiser comer
terá que ser marcado.
Terá que votar,
pra escolher quem vai te governar
e se não o fizer,
nem em sua casa, poderá entrar.
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