Horário de Verão

O despertador começa a tocar e você não quer se levantar da cama, pois a solidão parece mais fria de manhã.

O café azedo e o pão amanhecido serão as suas únicas refeições durante boa parte do seu dia.

O tédio é uma nuvem cinza pairando sobre a sua cabeça, mas você sabe e sente, o tédio é apenas um disfarce, a sua verdadeira face é o sentimento de vazio.

Você já não sente angústia. Você já não sente amor. Um deserto de emoções e isso parece demonstrar que em nada mais existe qualquer sentido.

Você ri de suas próprias tragédias imaginando o quanto está atrasado para a vida.

Alguém te chama: talvez seja o tempo.
Você se questiona se há qualquer solução.
Pensar que ainda há parece ser o seu único caminho viável.

Você tenta descobrir em outros qualquer pista sobre você.
Você tenta compartilhar o seu vazio com alguém.
Mas todos estão sem tempo e parecem ter vazios demais dentro de si.

Então o jeito é procurar no seu peito e vasculhar no seu armário interior qualquer sentimento perdido, pois é preciso consolar o teu corpo já cansado de tantas tentativas.

Você quer almoçar, mas sabe que se esperar um pouco e se não fizer esforço ela logo passa, como assim também passaram os anos.

Você vê a vida pela tela fria de um computador. Procura por amores em sites de busca: “SITE NÃO ENCONTRADO, TENTE NOVAMENTE MAIS TARDE”.

Você joga paciência com o computador, mas hoje não é o seu dia de sorte. Perde novamente em um jogo do qual sempre esteve acostumado a ganhar: paciência. Ao término de mais uma partida perdida você acaba acreditando que é melhor voltar para casa.

A sua solidão encontra companhia em um ônibus lotado de pessoas frias em suas quase outras vidas.

Você alimenta pequenos desejos e esperanças, sonha com grandes momentos. Mas existe uma grande sensação de engano em sua vida. Você se sente fora de lugar.

Um só pensamento em suas lembranças nesse instante.
Mas sabe que ela não deve se lembrar de você.

Tão tarde você pensa.
Sua fome grita. Quem dera fazer um lanche de alegria.

Você desce de um ônibus à tarde e volta para o mesmo lugar em que nasceu. Um mesmo bairro pobre, as mesmas pessoas estúpidas e uma vida estranha e infeliz.

Hoje você não gostaria de estar em um quarto escrevendo e rabiscando símbolos sobre a sua depressão. Afinal, quem se importa?