Dependurei meu coração na treva da lua nova, e ele flutuou de leve, neve, que a brisa leva... Leve! E nevou, e inovou, e o vento levou meu coração alado, e elevou-o de cada lado dos astros, breves, graves, e sobrou só um rastro acinzentado estampado no pergaminho da noite, onde as aves fantasmas gravaram acentos graves despropositados, elementos de entrave à mesmice da leitura. Meu coração finado deixou de legado um silêncio desafinado.

No buraco que era seu posto, com desgosto, sem pasto e sem rosto, ressoa um pio rouco e fraco da ave que lhe cedeu as asas. Se deu inteira na derradeira manifestação de nobreza, e agora com tristeza entoa o canto do pássaro sem casa, sem ninho, seguindo na Natureza um caminho que não era seu. A voz do passarinho ressoa com liberdade no meu vazio, e quem ouve meu pranto não sabe que o que ecoa é, na verdade, o desencanto que causa um coração que partiu.

Deus espalhou um boato que diz que posso de fato ser feliz sem o coração que não me quis; mas desde então tudo o que fiz foi olhar o retrato fixo no espelho do quarto, transluzindo minha cicatriz. Nem de tristeza me mato, pois com que coração ficar triste se no buraco do meu peito a desilusão do amor perfeito é tudo que existe?

Se alguém encontrar meu coração flutuando no espaço, sabe-se lá quando, não conte que me desfaço, chorando, sem ação. Invente que sigo adiante, passo a passo, sintonizando a canção; e já não faço questão...