" Quase um símbolo do destino humano com ela. "

“ Uma tal expressão de infelicidade era bastante em si mesma para fazer deslizar pela beira do papel até o rosto da pobre mulher – insignificante sem aquela expressão, quase um símbolo do destino humano com ela.  A vida é o que você vê nos olhos dos outros; a vida é o que as pessoas aprendem e, tendo aprendido, nunca, embora o tentem esconder, deixam de estar conscientes de - do quê? De que a vida é assim, ao que parece. Cinco rostos opostos – cinco rostos maduros – e o conhecimento em cada um. Por estranho que seja, como as pessoas querem disfarçar isso! Em todos esses rostos há sinais de reticência: boca fechada, olhos sombrios, cada um dos cinco fazendo alguma coisa para ocultar ou estultificar seu conhecimento. Um fuma; outro lê; um terceiro confere anotações numa agenda; um quarto estuda o mapa da linha pendurado defronte; e o quinto – o que há de terrível em relação ao quinto é que ela não faz absolutamente nada. Fica vendo a vida. Ah, minha pobre, infeliz mulher, não deixe de entrar no jogo e –, em atenção a todos nós, disfarce bem!”.

“ Ela olhou para cima, como se tivesse me ouvido, mexeu-se ligeiramente no assento e suspirou. Parecia desculpar-se e ao mesmo tempo dizer-me: “ Ah, se você soubesse!”. Depois voltou a olhar para a vida. “ Bem que eu sei”, respondi em silêncio, dando uma olhada no Times para manter as aparências.”

 

                                       Virginia Woolf – Um Romance não escrito

Eloisa Alves
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