" Deixe-me então inventá-lo..."

" Deixe-me então inventá-lo..."

“ (...) Deixe-me então inventá-lo. ( Você tem feito o mesmo por mim.) Você está estendido nesta margem quente, neste dia agradável, neste dia que se vai, neste dia ainda brilhante de outubro, vendo um barco atrás do outro passar pelo meio dos ramos penteados do salgueiro. E você deseja ser poeta; e você deseja ser amante. Mas a esplêndida lucidez de sua inteligência e a implacável honestidade de seu intelecto (essas palavras latinas eu devo a você; essas suas qualidades fazem com que eu me remexa um tanto impacientemente e perceba os desbotados remendos, os frágeis fios de minha própria bagagem) lhe paralisam. Você não se entrega a nenhuma mistificação. Você não se deixa obscurecer por nuvens rosadas, ou amarelas.”

“ Estou certo? Li corretamente o breve gesto de sua mão esquerda? Se é assim, dê-me seus poemas; entregue-me as folhas que você escreveu na última noite com tal fervor de inspiração que agora se sente um pouco encabulado. Pois você desconfia da inspiração, a sua ou a minha. Voltemos juntos, pela ponte, sob os olmos, ao meu quarto, onde, com as paredes à nossa volta e as cortinas de sarja vermelha cerradas, podemos barrar essas vozes perturbadoras, o aroma e o perfume dos limoeiros, e ouras vidas. (...) De novo, por algum leve trejeito adivinho o seu sentimento.”


Virginia Woolf – As Ondas   

Eloisa Alves
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