O Vazio da Solidão

 O Vazio da Solidão


Cada um de nós é um ser único,

Ainda que acompanhados,

Teremos sempre um espaço só nosso,

Uma espécie de vazio onde habita nossa solidão.

Eis que então, assim o descrevo.

O número zero,

Uma situação de completa neutralidade.

A ausência de posição,

Não se adota a direção positiva ou a negativa.

Um ponto perdido no infinito;

De tão pequeno, é praticamente nada.

Uma quase insignificância.

De tão ínfimo, denota ali existir apenas vácuo.

Um incômodo e pesado vazio na contradição de existir,

Embora inobservável.

Crescendo na sua invisibilidade,

Sendo gerado mesmo que a contragosto.

Numa evolução contínua,

Num desenvolvimento obstinado,

Insistindo em surgir.

Criando um nó na garganta,

Cravando aguda dor a dilacerar as fibras do coração.

Nascendo, finalmente,

Como que um feto de um sentimento machucado.

Existindo, mas contrariando a própria existência,

Numa negação total de si.

Tentando encontrar consolo no inverso da vida,

Na idealização heroica da morte.

Buscando, na razão, o senso lógico;

Fazendo comparações,

Descobrindo iguais e diferentes.

Sentindo o poderoso choque existente

Entre o vasto infinito e o espaço delimitado.

Curvando-se à pressão da sensação

De sufocante e imobilizante clausura.

Querendo fugir

Como que fera aprisionada

Em astuta armadilha.

Perdendo o olhar na profundidade

Dos abismos, e na altitude dos picos.

Reconhecendo haver um confronto

Entre o que existe de mais alto com o profundo.

Não conseguindo nisto manter os sentimentos,

Percebendo-se como que algo oco.

Uma casca sem conteúdo, um recipiente vazio.

Desestimulando-se consigo,

Não se reconhecendo dentre tantos outros.

Desejando ser comodamente ninguém.

Desprezando a si,

Mas também a todos os demais.

Mergulhando na solidão do ego.

E na solidão,

Sentindo a presença de um alguém oculto,

Brincando de esconder.

Jogando com o acaso,

Criando muitas possibilidades,

Gerando expectativas.

Culminando num processo de ansiedade

Por respostas a dúvidas ocultas.

Num estranho jogo onde tudo pode ser:

Talvez um “sim”, talvez um “não”.

 

 
Gilberto Brandão Marcon * 16/03/1988