A cidade estava só
e os pássaros não lhe quiseram
os galhos das árvores.
A cidade estava só
em rua e caminho
e olhos guardados nas janelas.
No semáforo sem autoridade,
sanidade atravessa fora da faixa.
Cidade.
Minha cidade só e sem pai.
O Deus que aqui olhava
ocupa-se agora de baixa filosofia,
pensa na hierarquia dos anjos de pedra
estacionados nas fachadas das igrejas,
pensa que amoleceram, esconderam as asas.
E desses que caíram e andam por aí
armando nós nas gargantas,
não quer mais a imagem, semelhança.
Cidade.
Minha cidade só e sem mãe.
Nossas senhoras escondidas
porta adentro dos altares das casas
queimando velas e palavras de ladainha,
desejosas de seus filhos no lar,
não na cidade, que há de ficar só.
Essa cidade é medo que anda a pé.
Cidade.
Minha cidade só e sem mim.

Por acaso São Paulo teria como defender-se de si mesma? ou nós de nós mesmos?

São Paulo