Perdoe-me por não responder à sua última carta, pois nesses dias, infelizmente, eu estou enfrentando alguns fantasmas do passado. Entretanto, como sou exigente, responderei detidamente, assim que houver a possibilidade.
Lu, receber o seu elogio é uma honra, pois você é uma poetisa extraordinária, entretanto, o seu elogio não pôde trazer o talento da felicidade para os meus dias, esta que nunca tive o prazer de me sentar e vê-la numa encenação belíssima. E, inevitavelmente, há condenações de uma poetisa nunca satisfeita com absolutamente nada, e dessa miserável condição, enalteço e desprezo todas as palavras, numa busca infinita pela perfeição da estética das metáforas, ou por uma profunda deterioração. Afinal, o que seria de nós, esses escritores vorazes, delicados, ambiciosos pelo verso inatingível e inalienável, meticulosos, melancólicos e deslocados na grotesca comunicabilidade humana, se não houvesse à nossa escrita inexata a renascer nas areias pontiagudas da nossa dor?
Abraços e fique com Deus!
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