A evolução retrógrada dos teres

 Da doença se faz a vacina
Da morte a vida
Do ataque a defesa
Do lixo a comida
Do sangue o avanço
Da verdade a mentira
Da realidade o espetáculo
Da desgraça a graça
Da paz a guerra
Do regresso o progresso
 
Os muros são mais altos para uns
Mas são essenciais para a fortaleza de outros
Separam, segregam
Mas muitas vezes eles nos cegam
Sua altura e rigidez
Atrapalham a escalada por livres braços
Chegará ao topo quem tiver punhos de aço
(Ou de ouro)
 
Requerida é a proteção
Cuja forma é material
Mas só protege a hegemonia
Dos detentores do capital
Da queda a ascensão
Pesadelo de Einstein, tecnologia
Cresceu a nova moda, novo costume
Proporcionalmente ao chorume
 
Confunde-se a vida natural
Às aparências da virtual
Já não sabemos o que é vida e o que é ficção
Ficção científica, social, porém não fictícia
Até existem máquinas de suicídio forçado
Bancado pelo Estado
O fuzil e o tanque incorporados ao soldado do batalhão
(Pois não se sabe o que é máquina e o que é humano)
 
Antes a divisão era por muros, hoje por telas
Mas os muros continuam, apesar de invisíveis
Barreira da alfândega, muro de Berlim, de Jerusalém
Rezamos a Deus, mas a Kratos dizemos amém
Em nome da cracia, seja oligo, tecno, teo, mas nunca é demo
Um barco afundando, na era do motor, enquanto ainda uns usam remo
 
Vamos nos informar
Vamos ler o jornal, assistir televisão
Mas é manipulada e omitida a informação
Veículo de mentira, de falácias, pago para manipular
Seja para o político da esquerda ou o da direita
Pois o que importa é o manter embaixo, protegido
Fajuto equilíbrio, para um lado aumentar, o outro tem que diminuir
Pesadelo de Aristóteles, o amigo da verdade
Ver o mundo profanado pelos escudeiros da impunidade
 
Do veneno se faz o antídoto
Precisando envenenar aldeias e desprotegidos
Sacrificando alguns seres, para o benefício de outros
Mesmo estes não sendo dignos do tal
Relação ecológica desarmônica
Degeneração genética da ética de forma autossômica
Gênese apocalíptica por um motivo boçal
Rumo à eterna deflagração racional pelo ouro
 
Coração é coisa do passado orgânico
Substituído pela placa mãe
Programada para funcionar, sustentar os sustentados e a si
Crianças terceirizadas padronizadas, sem pai e mãe
O bom é que a tecnologia faz o trabalho pesado
Mas em vez de pensar, compram o que é outorgado
Seres humanos ou teres humanos
Linha de produção refletindo na linha de fome

Manoel Flávio Kanisky
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