Há sono. Um tédio e um cansaço angustiantes. Desejo dormir...

Eu rolo penhasco abaixo como a rocha de Sísifo e despenco...

Não me encaixo com personagem algum do teatral elenco

Do baile de máscaras de efêmeras alegrias da vida a se consumir.

 

E como todos, eu me apeguei ferrenhamente ao viver, mas ele é breve.

E vi a tolice de amar tão ardentemente algo que tão logo acaba

E nos mergulha no Rio Letes da memória humana, que frágil, desaba

Como em um dia de verão derrete o derradeiro invernal floco de neve.

 

Caminho como o ébrio que pretendia um cálice de vinho e bebeu a garrafa.

Caminho como o filósofo que percebeu que o pensar é inútil, vão.

Vi e revi o mundo com a angústia de uma procura de um real que é ilusão.

Persegui, como um justiceiro, um bandido maligno que sempre se safa...

 

Consola-me, como o ópio o qual me inebria e alucina o deitar...

Sim, eu quero adormecer em um sonho de volúpia e imensa luxúria

Onde a imaginação não possui limites e sentimos prazer em nível de fúria.

Onde não morremos na praia após nadarmos no tremendo mar...

 

O que é a vida senão um interminável esquema, um tabuleiro de xadrez?

Eu, como tantos, senti tanto pesar e desilusão em meu peito,

Até que percebi o quão chamativo e aconchegante poderia ser o meu leito

A acomodar minha carne, ossos, o espírito e até minha tez...

 

Este hálito gélido que se aproxima do meu corpo é a morte...

Não sinto o medo e as dúvidas os quais nos instigam tamanha dor

Quando o fim chega, e devo dizer que estou tranquilo mesmo no estertor...

Tanta luz, tanta sombra! E nem sangro no trespassar do último corte...!