O sítio da avó Alice

No sítio da avó Alice, corre uma cachoeira,

e a fumaça igual poeira, de longe se enxerga lá!

Quem da serra se aproxima, não sabe, nem imagina,

o canto da passarada, que cedo põe-se a cantar.

 

E quando perto se chega, um ronco estrecedor,

parece até um motor misturado com a queda d'água,

batendo em pedras roladas, imóveis de forma fria,

toda água que um dia, teve o dedo de um Autor.

 

Mais abaixo em um desvio, corria um pequeno rio,

que entrava encanado em caminho de táboa feito,

e não tinha outro jeito, tinha que ali passar;

ganhava velocidade, e sua aplicabilidade, tinha, é claro,

na acuidade, um pleito a realizar.

 

Caía na grande roda, tinha escadas numa abóboda,

era lindo de olhar!

A roda ia na água e a água ia na roda,

antigamente era modo este engenho fabricar.

 

E dentro deste moinho, fazia-se muito vinho

pra cachaça produzir.

Também a ele se usava, por força que a água dava,

fabricação de farinha.

 

Chegava do mato a dentro, um som de friccionamento,

era um carro de bois, que vinha puxado a dois, chorava como criança,

Caregadinho de lenha, devagar descia a penha,seguro com confiança.

 

Na frente vinha João, era um velhinho peão, criado ali desde novo!

O ar puro da fazenda, e  a belezura tremenda dava ao coração renovo.

Quando a mandioca vinha, raspada no tacho cozinha, movida por pá do engenho,

fazendo-a bem finininha, seca, pura, bem branquinha, são lembranças q'inda tenho.

 

No sítio da avó Alice, houve muitos casamentos,

houve festas e eventos,

memórias vivas guardadas!

Lá não tinha tristezas,

as águas nas correntezas, pareciam dar rizadas.

 

Mas chegara um momento que seus filhos foram embora,

estava chegando a hora da roda grande parar.

Secou-se a água da calha, e toda farafernália, perdeu seu brilho antigo!

Restou apenas o ronco correndo em meio aos troncos da mata virgem existente.

A selva estava contente, os bichos, todos viventes, por não perderem o abrigo.

 

A avó Alice morreu, o carro e os bois venderam, do velho João, não se sabe.

Os filhos se espalharam, os netos nem se lembraram, até eu com essa idade,

restou-me só a saudade, daquele chapéu de couro,daqueles tempos de ouro,

daquela simplicidade!

José Aparecido Ignacio
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