JULIETA SEM ROMEU
Vou vivendo, de passo em passo
vez ou outra fora do compasso,
tirando sorrisos do baú do passado,
usando a máscara da tal felicidade.
Vou vegetando assim dia após dia
respirando vez ou outra, o mesmo ar
que respiras, enchendo os pulmões
para soçobrar por mais um tempo.
Poetas são assim: amam o inexistente
dando um valor ao objeto de inspiração
que nem ele próprio imagina que tem.
Somos loucos de amor, mil anos a frente.
Concluo que é melhor esse amor platônico
do que o incêndio alexandrino que existia.
Eu me sentia prestes a morrer sufocada e
inutilmente; não é isso que deveras sentes.
Queria esquece-lo, assumo covardemente,
mas sei que minha inspiração de ti depende.
Então vivamos assim, idílico em transversal.
Pois se o cupido fosse certeiro com as flechas,
Romeu e Julieta viveriam juntos eternamente.
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