ABRIGASTE-ME NOS TEUS BRAÇOS

 
 
Mulher, toma-me agora em teu braços,
Cola a tua boca na minha como uma só,
Antes que a candura se transforme em o ódio;
Antes que a morte nos afogue em sangue,
Sufocando a nossa respiração,
Cadenciando a nossa agonia 
Neste tempo de fome de amar;
Neste tempo sem futuro, sem nada...
 
Nossos corpos se conhecendo,
Numa lentidão sem presa de termino,
Onde nós descobríamos a vida...
As tuas unhas cravadas em minha costa!
 
Antes de morrer, grito o teu nome,
Em palavras desconectas e encantadas,
Digo para mim mesmo o quanto te amo_
Do teu lado conheci a delicadeza.
 
Mulher, toma-me agora em teus braços,
Enquanto ainda estamos juntos,
Nesta lúcida presença de passado,
Em que as horas nos trazem uma fé,
Essa de existirmos um para o outro,
Colhe, ó meu amor, o que resta de mim...
 
Essas insônias ressuscitadas no choro
Que agora se entrelaçam em meu peito,
Como uma canção que assombra
A felicidade de quem se perde no caminho.
 
Desde sempre estivestes em mim;
Desde sempre te procurei;
Desde sempre habitastes o meu mundo;
Desde sempre te descobri...
 
Que boca agora hei de beijar?
Que rosto agora hei de contemplar?
Quanto tempo eu ainda tenho para respirar?
Morremos uma só vez...
 
Atravessaremos juntos 
A espiral estendida do silêncio,
Esse vão de patamar no tempo,
Vertente que nasce...
 

Jairoberto Costa
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