Um rio que desce trombando nas pedras,

carrega gravetos, corre noite e dia,

se guia por entre caminhos estreitos,

vai tomando jeito, fazendo sua cama,

vai levando lama, só desce, só desce...

E como uma prece, se escuta seu choro,

reflete cor d!ouro, o sol que lhe brilha,

seguindo sua trilha, descendo o morro.

 

Vai cruzando montanhas e deslizando em vales,

vai juntando males em todo percurso,

de si bebem água, animais como o urso,

água não mais pura, manchada fulgura,

já contaminada de restos humanos,

dejetos mundanos, se vai poluindo.

Outrora tão puro, tão limpa a nascente,

apresenta indícios de um rio doente.

 

E agora meu Deus, o que ei de dizer

de um rio que jorra a fonte da vida?

Em toda descida encheu-se de nojo,

carregando em seu bojo a fúria humana,

de mentes insanas que degradam o amigo,

carregava consigo a vida saudável

em aroma agradável, não tem mais sabor!

 

É veneno puro, que dele beber,

certo, vai morrer!

Chegou lá cansado

de ter viajado um longo trajeto,

pra trazer à vida, saúde e prazer!

Não dá pra beber, mataram o coitado,

foi muito açoitado por humano indiscreto,

e jaz-abjeto, desprezou-se a vida!

 

A vida acaba, chegará o fim,

e tenho pra mim, que a raça humana,

ninguém me engana, subindo ao topo,

tenho por escopo, vai se exaurir!

Então Deus vai rir

do desgraçado homem, que tudo consome

deixando seu lixo e até mesmo o rio

em breve cochicho, lançará um deboche

daquele que a isto trouxe, já não há mais vida,

deixaram-me assim.

 

 

José Aparecido Ignacio
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