Corações de Cera

– Mãe , é o pai!!!
A mãe virou-se mais por reflexo do que por credulidade. Parou o andar apressado, abraçou a pequena de quase sua altura; apertou-a ao peito, beijando sua cabeleira loira e perfumada e percebeu que algumas lágrimas molharam as mechas douradas da pequena Vic. Apertou-a mais em seus braços na movimentada calçada. É claro que o moço que passara do outro lado da rua não poderia ser seu antigo amor. Ele não viria a São Paulo. Ele não viria a lugar nenhum. Mas era meio difícil convencer a pequena Vic de apenas dois aninhos, como o pai costumava dizer, como a desejar não vê-la crescida, mesmo quando ela já completara seis anos, hoje ela tem sete. As duas ficaram, abraçadas por alguns minutos.
Atravessaram a rua e ao longe ainda puderam ver o moço se distanciando cada vez mais. De fato, parecia bem familiar, aquela calça jeans escuro, camisa de linho azul, meio desbotada e aquele andar meio em falso, mas não passavam de meras semelhanças.
Sentaram num banco e pediram dois sorvetes a um vendedor que estava próximo. Os olhinhos azuis da menina estavam turvos de emoção traduzida em pequenas lágrimas. Ao terminarem, a mãe olhou o relógio e convidou a princesa a continuarem para casa.
Nas duas cabeças aquela sensação de terem visto alguém que foi o seu grande amor. O seu mundo, seu herói, seu cavaleiro...
Mas, como dissera certo Vieira, os amores não são para sempre, o tempo, como faz com colunas de mármore também dá cabo a corações de cera.

Zeca
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