Meu, muito querido amigo:
Poucas pessoas existem que, igual a você, podem ser consideradas uma enciclopédia viva.
Desafiar a vossa inteligência e conhecimento é, senão uma batalha perdida, ao menos, uma perigosa aventura. Sendo porém, contudo, uma grande oportunidade de mais aprender.
Então, vamos lá:
Na verdade, é exatamente sobre isso que eu estava falando. O papel que antigamente cabia aos membros dos concílios, hoje é relegado aos teólogos modernos, ou seja, o de sedimentar entendimentos, estabelecendo os novos dogmas das religiões. Na verdade, a bíblia não fala que Madalena tivesse uma vida licenciosa. Apenas menciona que Jesus expulsou dela, sete demônios, conforme o mencionado no Evangelho de Lucas e que ela, após esse episódio, passou a segui-lo. Não havendo na literatura bíblica, nenhuma referência negativa à índole ou ao estilo de vida dela. Deveras, o simples fato de que Madalena possuísse sete demônios, não a classifica necessariamente como mulher uma mulher promíscua, muito menos como prostituta,visto que ao longo de toda à narrativa bíblica, também esteve satanás presente em tantos outros homens e mulheres de virtude inquestionável, tal qual foi com Pedro, quando Jesus o repreendeu em Mateus16:23: “ Para trás de mim, Satanás, que me serve de escândalo;”
É bem verdade que Madalena apresentava um quantitativo um tanto maior de obsessores; que, entretanto, nem de longe, poderia ser comparado ao “endemoniado de Gadara”, pois aquele, possuía tantos demônios que se faziam chamar “Legião”, tantos que, ao sair do infeliz possuído, tomaram à toda uma vara de porcos.
A conclusão de que Madalena tenha sido uma mulher promíscua e libertina não é, portanto, fruto de conhecimento científico, tampouco empírico, senão fruto da concordância da maioria dos estudiosos, sem apoiar-se, deverás, num embasamento histórico e concreto.
Tampouco, a mulher que untou os pés de Jesus e enxugou-os com os próprios cabelos, foi Madalena. Na verdade, Maria de Betânia, irmã de Marta, tia de Lázaro, foi a verdadeira protagonista desse episódio.
Outras Marias tiveram participação importante na trajetória do Mestre e estão graçadas no texto evangélico. Também, outras, que não marias (cujos nomes não são citados), gentias, samaritanas, prostitutas... mulheres, enfim.
Com o tempo, porém, a cultura popular, antes mesmo das convenções teológicas, tendeu à personificá-las todas, numa única e cativante personalidade, pacificando o entendimento de que Madalena fosse a devassa prostituta que, arrependendo-se de seus pecados, converteu-se totalmente à serviço do Mestre.
Madalena, ao longo da história (não apenas da história cristã, mas da história do mundo), polarizou as atenções de diversas correntes religiosas, filosóficas e ideológicas.
Da Vince, por exemplo, retratou subliminarmente Madalena, no famoso quadro “A Ultima Ceia”. Tal representação não foi ao acaso, mas encontra-se carregada de significados subliminares, comuns à vertente de sociedades que perpetuam a cultura do “sagrado feminino”.
Também os Rosa Cruzes, a linhagem francesa dos Reis Merovíngios, algumas sub-ramificações dos antigos Essênios e um outro tanto de seitas sociedades antigas e secretas, gravitou em torno do icônico personagem, apoderando-se do seu enorme magnetismo, inserindo-o em sua dogmática mitologia.
Grande e carinhoso abraço meu querido amigo!