NAMORO NA PATUSCADA

 
Encontrei uma mulata mais leve que uma pena
De corpo bem elegante, cintura fina e morena
Tirei-lhe para dançar, em meus braços a apertei
Cheirava como uma rosa quando ainda em botão
De tão colada em meu peito foi grande sua emoção
Ali nós dois na passada, conforme a batucada
Peneirando aquele trote, lhe dei forte beliscão
Em pouco tempo ela era dona do meu coração
 
Namoro no samba encontrado é difícil se acabar
Hoje esquenta um tanto, amanhã um pouco mais
E com dois ou três encontros já se passa a namorar
Leva a parceira lá fora afim, de se refrescar
Quando sente o seu perfume, fica-se embriagado
Dá um cheiro no cangote, depois um bom apertão
Mexe aqui mexe acolá, num calor acelerado
E quando pensa que não, estão os dois agarrados
 
É assim que o caboclo se prende por toda vida
Torna-se pai de família, homem e cidadão
Com o trabalho forçado, junta alguns quebrados
Até realiza um sonho, compra um pedaço de chão
Planta, colhe e vai vendendo, emprega em criação
Com trabalho e esforço, torna-se até patrão
Tem a vida sossegada, consegue um bom violão
Deitado em sua rede, toca e canta uma canção
 
É sertanejo corado, tem força como leão 
Toma sol e toma chuva, levanta de madrugada
De manhã toma seu leite, á noite uma coalhada
 Banha-se no riacho, mergulha nas águas e nada
Se farta da fruta fresca nascida no seu quintal
Pesca até a meia noite com grande satisfação
Tem a vida regalada e nada enfim o faz mal
 Ele é o único patrão, comanda seu pessoal.
 
A vida só é dura para quem não tem coragem
De enfrentar o trabalho, quer viver na boemia
Procura só farrear, não pensa no outro dia
Curte preguiça e espera tudo vir a sua mão
Acha-se merecedor é folgado e fanfarrão
Na velhice nada tem não conseguiu nem um lar
Torna-se um cão sem dono pelas ruas a vagar
E ninguém se compadece, pois viveu sem trabalhar!
 
O trabalho é uma bênção, todos tem que respeitar
Toda nossa mocidade, devemos nos esforçar
Quando chegar a velhice ter como nos sustentar
Ninguém tem obrigação de todo mal nos tratar
Devemos ganhar o pão e algo economizar
Pois velhos perdemos força e também adoecemos
Cadê nossa economia e o que na vida temos?
Velhos, doentes e cansados, aonde é que vai parar?

MARIA AGLAIDE NEVES
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