AS MÃES DE ONTEM, DE HOJE E DE AMANHÃ.

 
 
Ainda se faz mãe como antigamente, mas o dia a dia de cada uma entrou numa variação tão grande que às vezes a criança nem sabe se tem realmente uma mãe. É mãe empresária, operaria, funcionaria, salafrária, reacionária, incendiaria, etc, etc, etc,...Temos até mãe subsidiaria ou mãe auxiliar , que recebe o óvulo fertilizado na famosa barriga de aluguel para que outra tenha um filho (Nunca tente explicar isso para uma criança de menos de quatro anos).
Tingamente, como diria o saudoso Golias, a mãe era uma personagem presente em todos os dias e noites de nossas vidas. Desde o dente de leite até a terceira dentição, digo dentadura,  as maravilhosas mulheres desdobravam-se para que nada atingisse os filhos. Eram nossos anjos da guarda sempre, sem aquelas asas descomunais que aparecem em figuras que mais assustam de que dá a impressão de que estamos protegidos. Preocupavam-se conosco desde os pés descalços aos cabelinhos de manga chupada ou mola de binga, conforme o caso. Se iam a qualquer lugar, vendinha do “Seu” Nerso, terço na casa vizinha, pamonha para fazer na casa da Baiana, recomendavam:
- Fica ai brincando com os irmãozinhos e, como os casais naquele tempo não regulavam muito as funções reprodutoras, eram mais uns dois ou três, dados a todo tipo de artes, desde derrubar o bule de café, aperrear o cachorro da casa ou mesmo por fogo nos desconfortáveis colchões de palha de milho, que por sinal na hora de deitar-se faziam um barulho danado.
Adoecia um filhinho era aquela preocupação. Chazinho de todo tipo, hortelã para lombriga, limão com mel para resfriado, romã para dor de barriga, losna para mal estar estomacal. Os piores remédios eram, pela ordem, injeção, seja lá para o que fosse, óleo de fígado de bacalhau , tendo a losna também seu lugar de destaque dentre os mais recusáveis e óleo de rícino, destravador intestinal inquestionável, panacéia que éramos obrigados a engolir com quase todos os tipos de doenças, desde unha encravada a queda de cabelos.
Medico? Você pensou medico? Este era um ilustre personagem, tão raro quanto cabeça de bacalhau. Ir ao medico era caso seriíssimo, quase um famoso pé na cova. Já farmacêuticos e práticos de farmácia faziam às vezes da casa e um farmacêutico bom valia tanto quanto um Drauzio Varella para a época.
Mas, fazer o que, os tempos mudaram. A mulher, graças a elas, os homens e as leis, já não é mais mesma. Manhãzinha já esta de pé, foi à padaria, consultou a agenda, fez uma café instantâneo, ferveu o leite e, impaciente, esperou a chegada da babá para tomar conta do filhinho ou filhinha amada. Só tem uma criança em casa, economizou no reprodutivo, mais de uma não há como, talvez daqui a uns oito ou dez anos. O maridão foi trabalhar, tá no turno da noite, chega lá pelas nove e vai dormir com isolamento acústico nos ouvidos para não ser acordado nem por chuva braba. A babá chega com cara de mal dormida, a mãe acorda o Thurtle  ou a Scarlett, nomes ingleses  para diferenciá-los do Francesco ou Gigliola, itálicos da vizinha e diz a criança na tonalidade “to atrasada”:
- Mamãe vai trabalhar. Comporte-se. Qualquer coisa ligue no celular da mamãe. Mal sabe que sua bateria está no osso.
Vira-se para a babá:
- Lá pelas cinco, quando trazê-lo (a) da escola faça com que tome banho e não se suje. Quando chegar vamos a festinha de aniversario do François (Nome francês para não mesclar com o italiano ou inglês).
Apanha a bolsa dez em uma, isto é uma bolsa com mais nove dentro, fora os compartimentos com zíper, fecho éclair ou ilhoses do lado de fora da bolsa principal e de outras internas também. E sabemos, dentro de uma bolsa de mulher há desde alfinete de cabeça a ogiva nuclear, um verdadeiro arsenal de sobrevivência, embelezamento, alimentação, medicamentos, etc, etc, etc...
É um arraso de vida. Corre corre sem tamanho. Sempre imagina o marido chegar babando, a criança dormindo e a babá bêbada. Só então se dá conta de o quanto não vê a cara do adversário. É gente sem tempo até que se faça tempo sem gente.
Ai chegamos as mães do futuro. Não tem obrigatoriamente um marido. Seu rebento é fruto de fertilização “in vitro” na moderna clinica de engenharia genética Not Fulfill Love, no aconchego cibernético da geradora Rental Belly.
Nascida a criança para o  Admirável Mundo Novo, sem as conseqüentes dores do parto ou  o desconforto de uma cesariana e só ir buscá-la na hora e momento devidamente cronometrados  pela engenhosa maquina mater, já com teste de pezinho e um rol de instruções que compreendem desde alimentação até troca de fraldas. Obviamente, embora possa parecer, as crianças não serão todas iguais como se fossem gêmeos múltiplos. É que o óvulo da mãe conserva o DNA dos antecedentes, defeito que a Rental Belly gostaria de eliminar mas, para sorte dos nascituros, ainda não conseguiram programá-la para tal mister.
Ai a nova mãe adquire um robô baby sitter que controla desde as batidas do coração infantil  a sua temperatura. A criança crescerá extremamente vigiada pela engenhoca futurística, irá ao parquinho, as escolas, todas com orientadoras e professoras nos melhores moldes robô  teacher, formar-se-á futuramente de preferência engenheiro ou engenheira cibernética.
A mulher, se não casar-se mas desejar uma companhia, poderá encomendar um na moderna produtora de maridos “Man Outside Work” seu roboman . As vezes a encomenda não dará cem por cento exata, poderá vir um exemplar que ronca a noite, derruba café no tapete, canta “A Bicicletinha” no banheiro, não se liga em bate-bocas, fica de olho na baby sitter e, sabe como é, olhar de robô sabe até se a coitada está com o óleo vencido, dando-se ainda ao luxo de bater seu veiculo ano três mil e onze em qualquer fusca  sessenta e seis.
Mas ela não se dará por vencida. Marido, futuramente, será substituível sem as mazelas de hoje, com divisão de bens, brigas e processos na justiça. É só solicitar um modelo mais novo, bem acabado, programado com as características que mais lhe agradarem. Igualzinho hoje. Mas cada uma poderá trocar até sete vezes somente, pois nem um robô pode ser tão perfeito. Isso por que diz a lenda que cada homem tem direito a sete mulheres (Até hoje consegui perder oito), havendo assim uma inversão de necessidades. Mais que isso não será considerado mais defeito do robô, mas sim da mulher. Serão programáveis para inúmeras funções, inclusive o beijo com cinco variações: O muito quente, o quente,  o morno, o normal  e o gelado. Quando for programado para o gelado saberá que será objeto de troca. E pare de imaginar maiores intimidades mulher e roboman. Será criada a espetacular obra de engenharia “Orgasmicon”, modelo unissex, cuja finalidade já é sabida. Assegurou-me muita gente, contudo, que jamais deixará a maneira milenar e tradicional. Parabéns.
Esta é a mãe do futuro. Só não haverá futuro para esta mãe.

 
Tantas invenções, não é verdade? Faça-se o que quiser, mãe, você é tudo. Nada no mundo a substituirá. Só você entende nossa lagrimas, nossos anseios, nossos sonhos. Roger Vadim, cineasta francês, dirigiu um filme intitulado “E Deus criou a mulher”. Criou muito mais, criou a Mãe.

BUENO
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