RECORDANDO A ADOLESCENCIA-(pedaços da minha vida)-

RECORDANDO A ADOLESCENCIA-(pedaços
da minha vida)

                                          Quando
retornei da “Capital da Garoa” para meu berço sertanejo em meados do ano de
1976, a principio senti-me um pouco frustrado, pois tinha vontade de continuar
residindo naquele “arquipélago de arranha-céus”. São Paulo, nos anos setenta,
era uma metrópole fascinante em todos os aspectos que se possa imaginar,
principalmente para um garoto de quinze anos de idade que sempre havia morado
no interior, mas era irreversível, o sonho acabara. A realidade agora seria o
trabalho na lavoura, que eu já experimentara antes e mesmo não querendo, até
que se apresentasse outra opção teria que fazer parte de minha nova rotina.
Foram quatro meses de suor e calos nas mãos para ajudar no sustento familiar
quando finalmente, pela influencia de um Tio, fui contratado para trabalhar em
um escritório.

                                           A dificuldade inicial era pela falta de
experiência, mas com muito esforço e aplicação fui ganhando meu espaço e
conquistando a confiança do patrão. Hoje, data em que transcrevo essa pequena
narrativa completa-se um ciclo de trinta e sete anos de atividades nesse mesmo
estabelecimento que já mudou de endereço algumas vezes, mas continua sendo um
local impar onde creio que já estive mais presente do que em minha própria
residência familiar. É nesse “cantinho” que minha inspiração vem à tona e me
obriga a “desabafar” em prosas e versos. Por falar nisso, acabo de me lembrar
de um fato que marcou muito a minha adolescência e a de vários amigos dessa
época. Havia um bar na praça da estação que era o “point” da turma, pois ali
você encontrava o melhor salgadinho da cidade, uma disputada mesa de pebolim,
bilhar, um campo de bocha e a excentricidade do “anfitrião”, um espanhol de
pouco mais de meio século de idade que foi carinhosamente apelidado de “Titcha”
pelos frequentadores do badalado “buteco”.

                                        Era um bar quase vinte e quatro horas, pois
abria às seis da manhã e só fechava quando o ultimo freguês ia embora. O Titcha
não dormia, falava com sotaque e foi durante boa parte de minha adolescência a
referencia da cidade, sabe aquele comercial do “pergunta lá no posto Ipiranga”,
era mais ou menos isso, ali era o centro de informações da pequenina cidade, na
época com cerca de doze mil habitantes. Aos sábados após o futebol matutino a
turma “atracava” no local para tomar refrigerantes, saborear os famosos
salgadinhos e disputar acirradas partidas de pebolim, tinha até campeonato da
modalidade. Presenciei muitos fatos inusitados no local e o Titcha quase sempre
estava envolvido, o “basco” gostava de “azucrinar” seus fregueses, mas sempre
de forma divertida, nunca o vi ofender alguém, tinha seus momentos de
seriedade, mas eram poucos, ele queria mesmo era viver a vida com alegria.
Certa vez, o “bonachão” desafiou um freguês a beber um refrigerante de Coca-Cola
Família-(1250 ml-(acho)) em um só gole, ou seja, sem tirar da boca ou parar de
beber até que terminasse.

                                        O camarada também gostava de desafio e topou.
Havia umas trinta pessoas no local para torcer e foi aquela barulheira, uns
torcendo a favor e a maioria querendo ver o cara se ferrar. A coca cola daquela
época era em garrafa de vidro e continha muito mais gaseificante que as de
hoje, mas o desafiado era valente e mandou ver, gut...gut...gut... e foi
tomando...tomando. Quando faltava mais ou menos uns 200 ml para vencer o
desafio aconteceu o que a maioria queria. Suas bochechas começaram a inchar, os
olhos esbugalharam seguidos de lágrimas em abundancia e o desfecho foi hilário.
O sujeito largou a garrafa no balcão, caminhou rapidamente até a porta do
buteco e uuuaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, parecia um chafariz. A
gargalhada era geral, e o Titcha, com seu inesquecível sotaque emendava... -
Vai fianaputcha...heheh, esganiado, bota las tripas pra fuera tamien...  heheheheh, e ria sem parar... – que belos
tempos aqueles, como a gente se divertia. Passados alguns dias do ocorrido lá
estava o “irreverente latino” desafiando outro frequentador e dessa vez era com
comida, comida em lata, ou seja, sabem aquelas latas de salsicha tipo “Viena”,
pois é.

                                          O
desafio era comer vinte latas o que equivalia a cento e sessenta unidades do
“embutido” de presunto. Lá se foi mais uma vitima para o delírio da “plateia”
cativa do local. O desafiado era bom e conseguiu comer dezesseis latas antes de
ir para o hospital, enquanto o Titcha gargalhava... – vai goloso, maricon, és
um mierda, non guenta nadia... panacon ... e ria... e ria... – mas o sujeito se
recuperou em poucas horas, depois de vomitar tudinho e tomar dois litros de
soro nas veias, heheh... – eh tempo bom que não volta. Saudades do Titcha que
já está em outro plano, talvez até “azucrinando” outros “fregueses” no além,
heheh. São muitas as histórias daquela época e sempre é bom recordar, sem
deixar que a saudade tome conta da gente, pois são fatos passados e não serão
alterados pela nossa lembrança, são apenas recordações...

 

Pedro Martins

22/05/2013       

Hoje, 22/05/2013 faz 37 anos que trabalho no mesmo escritório, é praticamente uma vida e agradeço a Deus por tudo que já passei nela, pelos momentos difíceis, principalmente, porque são eles que me fizeram enxergar além da visão física e foram aprendizados que me mostraram um caminho a seguir sem a necessidade de sofrer para aprender, para isso passei a observar melhor o mundo que habito no momento e sei que não ficarei muito tempo com a atual roupa que uso portanto tenho que dar o máximo de mim em prol de mim mesmo ou seja, semear boas sementes para colher bons frutos na verdadeira vida...

Pitangueiras, comemorando 37 anos de trabalho gr atificante...