TODOS OS FILHOS
 
          É véspera, o dia amanheceu sombrio, uma chuva miúda molha o meu jardim, onde mantenho exemplares belos, exóticos ou simplesmente lendários. Sim! São aquelas rosas deslumbrantes às quais nominamos em homenagem a pessoas que não mais se encontram entre nós. Interstícios vagos, totalmente insubstituíveis n´alma e em nossos corações. Eles representam a falta, a lacuna e até mesmo a magia desse  combustível maravilhoso denominado amor, que nos move nessa imensidão de acontecimentos passados e presentes na trilha profunda da emoção. Mas hoje eu não estou comovido, e sei que a breve vida continua. Temos espaços vazios e também preenchemos outros deixados por mortos e vivos. Chego a pensar, as vezes que é preferível ser órfão de uma mãe que foi para o céu, que de uma que vive, mas tão somente as emoções do planeta prazer...
      São colocações amargas soltadas do alto da montanha das emoções no rio das confluências e que desaguam todas elas na Bahia da justificação onde nos buscamos todos, uma justificativa, um apelo ou mesmo um perdão por uma interrogação que parte de lábios cerrados, que quase chega a balbuciar: Por que! Eu não te amei mais?
    Sei que gostaríamos de preencher todos os espaços, todos os vazios em um único olhar, que me contemplasse a cadeira vazia ao lado, no almoço do dia das mães...
     Eu sei que estas ao meu lado e até sorri. Mas, eu não te vejo, nem te toco e nem sinto a tua presença e às vezes nem consigo suportar a onda de calor que invade o meu ser, sempre que o segundo domingo do mês de maio resplandece em cada ano desde o dia que partistes e não estas comigo.
      Às vezes eu não consigo conter o egoísmo de te querer, quando já não o podes estar comigo, da inveja que sinto de todos os que estão com as suas mães, que se lhes presenteiam que recebem beijos, abraços e ouvem aquelas palavras que só uma mãe sabe pronunciar. Mas, eu não consigo falar e me afogo em lagrimas, agora, não de saudades, mas de recordações de anos de felicidades que tu me destes e, assim, te vejo sorrindo no meio de inúmeros presentes para a foto do dia das Mães, que não estará nunca nos álbuns de fotografias, mas no coração de cada um que teve um dia ou não, a sua mãe no coração. Por isso, eu ousei, mesmo sem autorização, fazer uma homenagem a todas as mães. As que foram as que são e as que um dia ainda o serão, de TODOS OS FILHOS.

AIRTON GONDIM FEITOSA
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