Quiçá reis... Quiçá rainhas...


Os mendigos esfarrapam as praças
Com seus cabelos esfarrapados; 
Esfarrapam as calçadas
Com suas barbas esfarrapadas;
Esfarrapam ruas e viadutos
Com sua presença esfarrapada...
Parecem espantalhos
Espantando pombos e idosos
E desavisados de sua existência
E seus sorrisos de xepa. 
 


Os mendigos lembram soldados
Mutilados por dentro
Camuflados de relento...
Soldados Gulliver pisoteados
Espartanos em frangalhos
Vietcongues no papelão embalados
Seres-humanos sem humanos...
E sonhos?
Amores?
Paixões?
Ilusões?
Perfumes?
Taças de vinho?...
Uma cama?
Pães a derreter manteiga...
Foram deles algum dia?
Serão deles algum dia?
Quem são os mendigos?
 


Os olhos deles prosseguem zoiando,
Buscando bitucas
Migalhas...
Parentes...
Gente ou o seu resto...
Fundidos aos pombos
Fundidos ao papelão
Fundidos ao álcool
Fundidos aos fodidos...
À fuligem... À loucura... Aos cães...
Cães que os tratam como gente
Somente. 
Sonhos?
Amores?
Banquetes?
Falsetes?
Drinques?
Um trono?
Servos?
Deus?...
Uma ducha?
32 dentes?
Um maço fechado...
Já tiveram?
Como perderam?
 


O pão deles de cada dia
São suas memórias.
Estórias anteriores
Às migalhas,
Aos centavos
À loucura...
Quiçá já deram esmolas
Ou foram amolados a dar.
Quiçá...

 
 


 

 

 

 

Praciano
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