Quem promete uma cura
com discurso teatral
negociando uma poção
de efeito medicinal
Perde a dignidade
E sempre acaba mal

É o que aconteceu
Com Rivaldo, o charlatão
Que de cidade em cidade
Vendia uma loção
E ganhava grande soma
Com sua tapeação

Um sabão muito barato
Em um armazém comprava
Com uma água barrenta
Todo ele misturava
E botava a mistura
No frasco que rotulava

Chegava na feira livre
Com o seu creme fajuto
Começava a falar
As vantagens do produto
Vendia a mercadoria
Inventando atributo:

- Preste atenção freguês
Na pasta miraculosa
preparada com resina
Barro e banha gordurosa
Com óleo de urucum
E extrato de babosa

Essa mistura perfeita
É de uso natural
Não provoca alergia
e efeito colateral
E da sua eficácia
Dou garantia total

Velho, criança e jovem
Qualquer um pode usar
Quem prefere a prevenção
Meu emplastro vai comprar
O uso desta pomada
Agora vou explicar

É pasta para o cabelo
Que fortalece a raiz
De caspa ou seborréia
Não vai ficar nem um xis
Uma aplicação por dia
Deixa o freguês feliz

Esta loção fabulosa
Também é um repelente
Para espantar insetos
Ela é tão eficiente
Que usando a muriçoca
Morre longe do cliente

É um creme para pele
Que hidrata e dá vigor
Dá alívio pra coceira
É do sol um protetor
Toda freguesia leva
Por um pequeno valor

É segredo de família
A sua formulação
Pra comprar grande quantia
Só pedindo de antemão
Não conheço quem usou
E não deu aprovação

Seu discurso enganador
Grande sucesso fazia
Todo estoque da loção
Em pouco tempo vendia
Lucrava uma grande soma
Enganando a freguesia

Vendendo em uma feira
Seu produto enganoso
Um dia não escapou
De um cliente furioso
Que a ele denunciou
Chamando de mentiroso:

- Esse mascate impostor
Tá enganando vocês
Eu falo por que também
Dele fui feito freguês
Mas aqui nesta cidade
O farsante não tem vez

Hoje comprei a loção
E já quis ela testar
Passei por todo meu corpo
E fui ao rio pescar
Com pouco a muriçoca
Chegava pra me picar

Era tanto do inseto
Que eu tive que correr
E o meu rosto vermelho
Vocês todos podem ver
O dinheiro que eu paguei
Ele tem que devolver

Rivaldo, o ambulante
Resolveu desconversar
Confiando no talento
Que tinha para falar
Tentou lograr o cliente
Que veio denunciar

- A loção miraculosa
É preciso usar direito
Você passa pelo corpo
E espera fazer efeito
No espaço de uma hora
Para ter melhor proveito

- Eu sei porque você quer
Que eu espere uma hora
Com esse tempo você
Já vai ter ido embora
O dinheiro que paguei
Quero devolvido agora

- Pergunte em outra cidade
Por onde eu já passei
Se eu sou um charlatão
Que não respeita a lei
E assim o seu dinheiro
Com gosto devolverei

- Você engana toda gente
E tem que ir pra cadeia
Porque veio abusar
Da confiança alheia
Que pagou e não vai ver
A cura que alardeia

- Toda minha clientela
Diz que a pasta é estupenda
Voltando em uma cidade
Só aumenta minha venda
Com muito freguês fazendo
Pedidos por encomenda

- Na terra que ninguém vai
O feijão dá na raiz
Essa pomada não faz
As curas que você diz
Só vende pelo seu dom
De fazer um chamariz

- Eu nunca fui pra cadeia
Preso como impostor
Só vendo mercadoria
Quando conheço o valor
Se a loção não fez efeito
Reclame ao fornecedor

Quanto mais eles falavam
Mais crescia a multidão
Quando estava nesse pé
Pra aumentar a confusão
Chegou ali o vendeiro
Para cobrar o sabão:

- Amigo, vendi fiado
Sabão do meu armazém
Um calote você deu
Em colega meu também
Foi ele que me avisou
Da manha que você tem

O freguês da muriçoca
Aí mostrou o furor
Dizendo para o mascate:
- É esse o fornecedor!
Rivaldo viu que findava
Seus dias de vendedor

A polícia foi chamada
E prendeu o charlatão
Foi recolhido o produto
De falsa fabricação
Rivaldo teve por prêmio
Viver em uma prisão

Leitor, com essa história
Fica exemplificado
Como faz o charlatão
Que deixa o freguês logrado
Se encontrar ele na feira
Evite ser enganado

FIM

Carlos Alê
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