INCONFIDÊNCIAS DE WALQUÍRIA (conto) II

INCONFIDÊNCIAS DE WALQUÍRIA (conto) II

 

 

 

O segundo a cair na teia da aranha, ou no quarto da desconsolada solitária, foi um vendedor ambulante, vindo de outras plagas. Achegou-se cavalheiro para apresentar suas bugigangas, foi fisgado. Estavam a sós em casa, os demais demandavam cedo para a roça, ela ficava para cuidar dos afazeres domésticos e da comida.

 O homem de fala rápida, matreiro expositor de seus produtos, a quem foi servido um cafezinho. Observando a vizinhança, atenta, foi  fechada a janela e o  trinco na porta. Ela bem sabia seduzir, deixando a mostra as pernas, de forma proposital. Ele, respeitoso, fingiu não perceber, continuando com sua prosa comercial, repetitiva e chata. Não havia tempo a perder, quando deu por si ela estava lhe roçando os seios desnudos, expondo seu sorriso provocante e convidativo, não dando azos a nenhuma dúvida de suas libidinosas intenções.

 Homem experiente, entendeu rápido o jogo da sedução, a pegando pelos cabelos e mordendo de leve seu pescoço... De leve, recomendou ela, sem deixar marcas...

 Nus como vieram ao mundo, saciaram-se um do outro. Extasiados naquela tarde solarenta e prazerosa. Dele não aceitou nada, nem uma lembrancinha. O que o intrigou, afinal, pensava, elas sempre cobravam alguma coisa, um enfeite para o cabelo ou outro mimo de pequena monta, dos quais seu mostruário era repleto. Ele que não imaginasse que ela fosse uma rameira, vendendo-se por quinquilharias, não disse mas deixou claro, demonstrando desinteresse por sua mercadoria. Dele desejou o calor e ardor de seu sexo, nada além disso.

 Ficaram de se ver outras vezes, sempre no máximo sigilo. Nem se preocupou com aliança no dedo do conversador, não era ciumenta, só o quis por momentos. Nunca mais se viram.

 Lembrava-se do romance com o dentista, espremidos no consultório, alvoroçados, ela e o doutor, parecendo consulta ginecológica e não dentária. Aquele tratamento rendeu muitas idas, parecia que estava com os dentes em cacarecos, com duas sessões semanais, durante algum tempo. Até que ele se rendeu, revelando que não poderiam continuar, baixando a guarda nos brios de macho e confessando-se exaurido, comprometendo sua vida conjugal já estremecida. 

 Outros se seguiram, de preferência casados. Assim não abriam o bico com receio de se comprometerem. Quanto a ela, o interesse era por instantes fugazes, não se prendia a ninguém. Gostava de tê-los quando quisesse, embora, assustados com sua volúpia, após poucos encontros se ausentavam. Alguns, respeitosos e temerosos, ao vê-la na janela, cumprimentavam-na retirando o chapéu, cortesia dispensada a respeitáveis senhoras e senhoritas. Respondia as vênias com irônico e insinuante sorriso.

 Tinha  a certeza de que os varões a temiam na intimidade, debandavam com receio de não darem conta de sua tara insaciável. Era melhor assim, detinha um trunfo contra boatos maledicentes, sabia os limites de cada um com  quem se deitava, tinham-os à mão, por temerem esse segredo. A convicção do receio deles com aquela arma implacável, assim, tacitamente entendidos, a veneravam como uma respeitável dama.. 

 Para os demais que passavam, obsequiosos, podia ler em suas fisionomias os seus pensamentos, imaginando-a uma pobre infeliz que ficara para titia, solteirona. Havia ainda as casadas, a passarem orgulhosas exibindo seus pares ( muitos deles bastante conhecidos na intimidade das quatros paredes de seu quarto) a ostentarem o matrimônio como troféus.

 Quanto a ela, ria consigo mesma, sentia-se livre para usufruir  de todos,sem compromissos com  nenhum..