Preciso inteiro do livro antigo, dos poemas de Emily Dickinson.
Daquela caixinha que toca música suave e triste de ninar.
Dessa roupa de domingo, da camisa colorida pólo com Nike.
Da noite em que fui contigo, espreitar o eterno e reluzente luar.
Necessito retroceder e dar de ombros pras coisas inócuas, vãs
e solertes, sem falar das ridículas. Nas sombras dos instantes
do que me foi esquecido e do que falta esquecer. Vendo aves
rondando aqui, que acabem pousando em minha janela aberta.
Quero solfejos de toadas; pastorais, madrigais, sinfonias do tudo.
Fragrâncias de floradas carmesins, dizendo sim e bailando ao
vento. Tostões de carícias , como numerosos chuviscos, mas
todos mornos. Sem esperar que alguma coisa aconteça:
[tanto faz acontecer !
Desejo graça, desejo meditação e o mais profundo dos teus ais.
Tudo emoldurado numa pintura grafitada em pastel, crayon ou
óleo. Longe desse insensato mundo. Me restituindo o que de
mim foram cinzas. Que irei juntando a tudo do que não mais seja,
aquela exausta colheita. Daquele solo hostil de acelerada erosão.
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