Paro o tempo no 3x4 do documento desajeitado na bolsa sempre cheia de bobagens.

[Me] percebi em minha filha, o mesmo jeito do cabelo, o mesmo olhar triste...
Talvez tivéssemos os mesmo sonhos ao dezesseis, só que os dela são muito mais sérios.
Até um tempo atrás eu desenhava relógios de bic em seu bracinho pequeno, hoje em dia corro contra os relógios que ela parece ignorar, procuro as semelhanças e ela as diferenças.
Sem perceber completa a canção que eu acabei de assoviar, e eu me pergunto:
Até que ponto vou vê-la ainda como minha bonequinha?
Às vezes desminto esses óculos que me fazem vê-la mulher, um mimetismo perfeito de mim.
Às vezes esqueço isso acontece quando na alma já surgem às marcas plangentes desse reumatismo que sempre dói quando o tempo avisa que vai chover...
Talvez tenha que seguir o convencional, repetir o que outros profetizaram...
Mas isso não é pra mim que fico até tarde acordando lembranças, e nunca tive um relógio de bic tatuado no braço, ou outra fotografia para trocar na minha carteira de identidade.
Tenho sinceras pretensões de enganar os relógios, de congelá-los e voltar sempre que me apetecer, nem que isso aconteça apenas dentro de mim...
 
Janaina cruz

Inspirada na passagem do tempo e na semelhança entre minha filha e eu.

Juazeiro do Norte- Ce