Monstros  utópicos  chego  a  construir, eles  andam  por  aí.

O  último  foi  feito  com restos de coisas velhas  e  carcomidas:

um  pedaço   de  ferro,  tirada de  uma  carcaça   de  caminhão,

um   barbante  com   peso  na  ponta  pra  lhe  dar  equilíbrio.

Amarrei-o  acima  do  corpo,  na  caixa  de  madeira  no

lugar  de  uma  cabeça.  Depois  de  muito prego  e  cola

e  a  estrutura  pronta,  arranjei  duas  rodas  de bicicleta,

recolhidas  no  lixo  de uma  oficina  e as  coloquei 

na extremidade  das  pernas,  como  se  fossem   pés.

 

Completa  a figura  disforme   e grotesca,   a sair  desafiando

o  mundo   e  a  tentar  conquistá-lo.   Lá  vai  aquela coisa

de metros de altura,  com  seu  andar  claudicante

e rangendo  suas partes fixas  com  as moveis.

Num  desagradável   barulho  que fazia

pessoas   se  desviarem,  sem  querer  saber

nem   do  que se tratava.

Algumas  partes  já iam  até se arrastando,

puxadas   por  arames  ou   dependuradas  em vias de  cair.

 

O  vi  pela última  vez  virando  a  esquina, 

ia  com  alguma  dignidade  e  parecia   senhor  de  si,

olhando  pra  frente,  apesar  do  seu  andar  trôpego

e   deselegante.  Mas  ansioso  de novidades. 

De provar  que  existem  mais  encontros que desencontros.

Que aquilo   que se fala  toda  hora,  é  exagero  ou  é conversa.

Todo mundo  é  bonzinho.  Os enigmas  e os segredos

serão  breves  em  desvendar. E  os caminhos  fáceis  de  trilhar.

São  eles  planos,  limpos   e desimpedidos  .  Margeados

de belos   jardins   floridos !

 

O  tempo  passa   e a  despeito  dos  dias

transcorridos  . . . ouço  um  barulho   ensurdecedor

e  compassado.  Vou  pra rua  e vejo  aquela  montanha

de escombros,  lentamente  se aproximando.  Vinha  só, 

quase  rastejando,   com apenas  uma  das  rodas,  das  duas

anteriores  e   andava   de  lado. Vi  logo  que  sua  missão 

estava   cumprida.  Eu  e  ele   parecíamos   agora,  

definitivamente   afinados   sobre  - o  que  é - 

a   humanidade.

 

Derreado  e  alquebrado,  finalmente  desmonta 

a minha frente.  Como  se caísse de joelhos,

pedindo  perdão  em  pedaços,

espalhando    lata  velha  por  todo   lado, 

e  o  pior,  sem  sequer  ter  arranjado

um  único  amigo.

Foi  como  o  amor  que  morre  fácil,

que  acaba  virando   um  monstro 

de  mentirinhas  !!!!!!

 

 

 

 

 

 

versejando ( ao estilo de Pessoa )
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