Céu noturno estranho... De um teor roxo.

Morto é o luar, almas penadas vagando...

Os sentimentos esmorecem como pétalas flutuando

Na brisa frígida onde voa um único mocho...

 

Súbita ausência de vida, raia a mística penumbra.

Nenhuma forma clara, nenhuma alma luzidia

A romper a escuridão espiritual que paira tão fria

No interior de corações os quais o nada vislumbra.

 

Este mundo de ideais que morrem banhados a ácido

É a loucura de todos os sentimentos mistos...

Guerra celestial entre anjos e Mefistos

Que lutam em cada ser humano com um teor flácido...

 

Nasce em cada íntimo uma flor: Translúcida magnólia

A qual contém simbolismos de tudo o que se pode sentir.

Universo construído em retalhos do que veio e do que está por vir...

Lentamente vemos o que será da história...

 

Nascem e morrem sonhos pueris, rasga-se o urso de pelúcia...

A crença e a razão tão firmes dão lugar a um sentimento cético,

Posto que sentir tudo ao mesmo tempo é algo quase herético

A bailar nas espirais de uma pretensa astúcia...

 

Badala o relógio da alma, onde onze após onze

Badalares, se antecipa sempre a decisiva meia-noite

Onde o que foi do ontem escurece e é fustigado por um açoite

Que deixa em nós um metálico coração de bronze...

 

O que significa o que foi escrito neste poema?

Ó leitor, irmão de alma o qual em vão perscruto!

Sois mais dignos que eu, um artesão rústico e bruto!

Mas tentarei explicar o que move este tema.

 

Desejo transcender a lama que compôs meu berço.

Mostrar, o que penso ser de algo que todos sentimos, a origem.

Mácula de sombra que existe e que distorce como uma vertigem

O pensamento, o sentimento, a crença que depositamos no terço...

 

Quando nascemos e vai-se a inocência, algo, em retribuição se eleva...

Vem em nós o amor: Síntese de todo o sentir e que sempre cresce...

Ao tomar para si todos os outros sentimentos, o amor nos enlouquece

E, embora magnífico, deixa em nós luz, mas também um véu de treva...