HOMENAGEM A MINAS GERAIS

 
Minas Gerais querida, minha segunda pátria
Que minha infância em teu seio vivi
Meus sonhos fagueiros em ti despertei
Carinhos e ternuras dos meus recebi
De ti amiga não me esquecerei
 
Foste testemunha ocular da minha dor
Do que vivi, do que amei, do que sofri
Encontrei aí meu primeiro amor
Se não casei foi por erro do destino
Que sem dó de meus braços o levou
 
Minas Gerais de rios caudalosos
Onde me banhei com pureza e inocência
À noite andado em tuas ruas serestei
Cantando canções tristes e dolentes
E quase a vida inteira em ti passei
 
Casaram-me numa de tuas cidades
E por lá nasceram- me oito filhos
Marcaste minha vida em todo espaço
Na dor quando a ventura me negaste
Ainda assim mando-lhe um  abraço
                
Oh! Minas Gerais dos rios cristalinos
Cochá, Japuré, Poções e Panelinha
De águas potáveis puras e cristalinas
Em ti renasci muito aprendi e te amei
Nem um segundo se quer te esquecerei
 
Culpa não tiveste pelo que chorei
Pois o meu viver foi obscuro e triste
A tudo acompanhaste e tudo viste
Minhas lágrimas em teu solo derramei
Mas bons amigos em ti eu encontrei
 
Trago em meu peito mil recordações
Daquela gente humilde e benfeitora
Que compartilhou de todo meu trilhar
Lá ocupei o cargo de professora
Aprendi mais do que pude ensinar
 
Dezenove anos passei a lecionar
Abracei este cargo com muito amor
De bons alunos trago a lembrança
 Nem se quer vi o tempo que passou
 E guardo comigo saudade das crianças
 
Ah quem me dera lá poder voltar
Para rever aquela gente amiga
Renascer nas cinzas do passado
Entoar com eles uma cantiga
Por fim a todos dizer muito obrigado!
 
Revivo este passado com saudades
Vejo as vilas de ruas calmas e tranquilas
Onde todos se sentavam nas calçadas
A contar casos e inventar piadas
Nos integrando feliz de corpo e alma
 
Ah se ao passado eu pudesse voltar!
E meus queridos compadres existissem
Do forno de farinha sair um bafo quente
Muita gente animada trabalhando
Cantando e sorrindo alegremente
 
 Biju e tapioca no forno se fazia
Guardava-se para o ano inteiro
 E com café com leite se comia
Nem precisava se gastar dinheiro
Para obter-se o pão de cada dia
 
Nas moagens a garapa pela bica corria
Vinda das moendas com doce açucarado
Nos tachos fervia um mel grosso e dourado
Com uma pá nos cochos  se mexia
Batida temperada e gostosa se fazia
 
Nos currais berravam as reses
A bezerrada a correr se debatia
Sugando ás tetas da mãe se fartavam
E o vaqueiro um canto entoava
Para o pasto as vacas ele tocava
 
O aboio triste ecoava a distância
Via-se o gado seguir em harmonia
Era a vida na fazenda que foi minha
Nos campos verdes o gado se fartava
Para serem desleitados noutro dia
 
O médio fazendeiro fazia questão
De dar aquele leite aos seus amigos
Havia entre eles sincera amizade
Tudo que se tinha era repartido
Não tinha brigas e nem falsidade
 
Todo ano havia a festa do Divino
Os penitentes visitavam nossos lares
Com reisado zabumba e pandeiro
Cantando: ‘Abra a porta quem está deitado
Vamos louvar nosso Deus verdadeiro’
 
Era uma festa que a gente fazia
Queijo requeijão biscoito e jantar
Preparava-se ás mesas com fartura
Eles entravam enfileirados á cantar
Em harmonia uns pra lá outros pra cá
 
Pareciam crianças sem maldades
Com versos simples a cantarolar
Comiam e bebiam a vontade
Água leite café ou qualquer chá
Era a festa do Divino, cachaça nem pensar!
 
 De tudo e todos eu sinto saudades
O mundo naquela época era outro
Em Minas Gerais havia irmandade
Em todos os corações perfeita amizade
Aquilo que era vida: Reinava felicidade!
 
Hoje vivi-se taciturno e triste
Nem compadres, nem amigos mais se têm
Nas cidades ninguém é de ninguém
Vivem a correr enlouquecidos
O mundo é um eterno vai e vem
 
Este tempo já passou não volta mais
O povo faz a corrida do ouro
Cada um quer ser grande e poderoso
Nem se dar um bom dia amistoso
Só pensam em guardar o seu tesouro
 
Eu vivo na cidade sozinha e isolada
Apenas vejo o sol nascer e clarear
Não há se quer nem um cumprimento
Não se sabe o nome do vizinho
Aqui é na verdade prisão domiciliar.

MARIA AGLAIDE NEVES
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