Máquina de satisfação

Máquina de satisfação

Uma pequena menina segurava seu urso em uma mão, em outra uma bolsa – dentro um batom. Cinco anos no máximo, olhos já mascarados, pele retocada, salto altos, pronta para exibição.

Acha seu lugar, acomoda-se em meio aos materiais de gravação. O diretor diz suas poses: uma foto de frente, outra de lado, outras de várias posições.

Aos poucos, sintetiza alguns sorrisos em flashes, torna-se uma imagem, moldura sua inocência em quadros - para se lembrar.

Rotina puxada, a criança esquecida – apenas a lembrança daquela menina que existiu.

As poses acabam - a menina se vê livre para brincar. Sai aos pulos, cantarolando, extirpando aquela presença que acabara de representar. Porém, sua infância já foi retirada, sua mãe de longe começa a gritar: Você vai se sujar toda menina! Venha para cá já!

Vai para o lado da mãe - emburrada, lágrimas começam a brotar de seus pequenos olhos, suas mãos tateiam o nada, sua mente divaga e deseja aquelas brincadeiras que vê outras crianças brincar.

A sessão de fotos acabou. A mãe, toda restituída de orgulho olha a filha e se gaba: Puxou a mamãe mesmo! Ao lado – a menina de olhos cristalizados pelo choro, apenas uma máquina de satisfação.

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