Por ser de família pobre,
Sabia bem o gosto do ovo frito com pão
Tinhas as palmas das mãos grossas
Fruto do esforço braçal
Tinha a pele oleosa e queimada do sol
Sentia de longe o cheiro do feijão no fogo
Mas que diferença faz
Ficava-se sempre igual
Muito caldo e pouco grão, meio sem sal.
Não tinha problema não, não sobrava no final,
Lavava a roupa na pedra
Nas margens da Piracema
Não tinha cheiro de açucena
Mas também não cheirava mal
Como pudera se era tão viril sua curvas?
Não se sabe então por que ela
Numa tarde toma as dores,
Se era bela apesar das rugas
Tinha em montes admiradores,
Que desejavam suas coxas suadas
Enquanto lavava desleixada
As vestes de seus senhores
Mas por que então o ato?
O que havia de tão errado?
Quem sabe o seu passado?
De nada adianta... Agora nem existem plantas
Em sua sepultura.
Ficou apenas um grito vão; no vento.
Quando todos desatentos
Presenciaram sua loucura
Desceu rio a baixo,
Sem amores, sem amigas;
Lavadeira vai ao fundo...
Esse mundo não merece suas cantigas...