Atrás daquela serra bem distante
Há um monte verde e relvado
Lá existe uma choupana rente ao chão
Onde mora um caboclo abandonado
 
Vivemos por algum tempo juntos
Amávamos-nos com muito ardor
Eu era por ele querida e muito amada
Somente nele encontrei amor
 
Um dia conheci um outro alguém
E por ele sem querer me apaixonei
Troquei o certo pelo duvidoso
Amargurado e triste sozinho o deixei
 
Tive o castigo que bem mereci
O jovem nobre e culto logo me deixou
Fiquei só a chorar arrependida
E sofri por este também a mesma dor
 
Hoje vivo a suspirar tristonha
E vejo distante o meu ex-ranchão
Ouço a voz plangente do caboclo
Que chora a dor da separação
 
Só você meu nobre e sincero mestiço
Soube me amar com ardente paixão
Lembro-me de teus doces carinhos
Quando abraçados rolávamos ao chão
 
Hoje pago com a mesma moeda
A dor que sem pensar um dia ti causei
Se eu pudesse ao rancho voltaria
Para arrependida dizer que te amei
 
Teu amor foi sublime casto e natural
Tinha sabor de virtude e de pureza
Vinha da alma de um ser nativo
Brotado com ardor da natureza
 
Quem me dera poder te encontrar
Abraçar teu peito suado e peludo
Sentir o cheiro da relva do campo
E para ver teus olhos eu daria tudo
 
Sentir tuas mãos másculas e calejadas
Meu corpo inteiro com graça afagar
Deitarmos ao chão do rancho querido
E teu cheiro de amor me embriagar
 
Deliciarmos num suspiro amigo
Adormecermos de corpos colados
Despertar com o sol nos queimando
E banharmos nus no mesmo lago
 
Estas lembranças me corroem o peito
Sei que jamais um dia te verei
Mas me consolo em olhar pro morro
Onde minha alma contigo deixei.

MARIA AGLAIDE NEVES
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