A chuva batia incansavelmente na janela, a luz que vinha da rua era pálida, tinha um tom amarelo, as gotas que caiam do telhado, ditavam um ritmo acelerado e uniforme, meu coração parecia seguir aquela cadencia. De repente ouve-se o silêncio, o vazio deixou-me preocupado, um estampido rasga a noite como uma espada afiada. O que aconteceu, o que provocou aquele estampido?
A chuva, o ritmo das gotas caindo do telhado. Olhei pela janela… Lá no fim da rua um homem caminhava rapidamente, notei que havia alguém caído bem debaixo de uma árvore pequena, pensei em um crime, em uma vítima, em uma tragédia, minha imaginação, formulou diversas situações, minha mente viajava. Em meu quarto esperava o amanhecer, que traria notícias daquele possível homicídio. O sol iluminou algumas nuvens lá no horizonte, o céu apresentava um tom salmão, era a aurora, que se apresentava como uma mulher apreensiva, ávida por notícias de alguém muito amado que saíra à noite e não retornara. Tornei a olhar pela janela, a luz do dia deixou-me ver o que deveria ser um corpo, na realidade era simplesmente um volume qualquer. Fiquei aliviado e muito feliz, por ter apenas uma mera imaginação de um fato que não me deixou dormir. Olhei para o relógio que estava em cima do criado mudo junto ao abajur, eram seis horas, fiz uma xícara de chá, tomei apressadamente e sai com destino ao trabalho. O vento estava gelado, meu rosto estava frio como o próprio vento. Pensamentos iam e vinham em minha mente, imagens se formavam, era como cenas de um filme sendo rodado em fragmentos e sem lógica alguma. Parei diante de uma praça, como podia ser? Eu fazia aquele percurso durante muitos anos. Como eu nunca havia notado que ali no meu caminho havia uma linda praça? Havia bancos, arvores e um gramado lindo cercado por pingos de ouro bem aparados. Sentei-me em um banco bem debaixo de uma linda árvore, parecia um carvalho. Notei algumas crianças brincando, elas corriam de um lado para o outro. Será que eu estava tendo alucinações? De repente fixei meu olhar em uma criança, era um menino, ele pareceu-me familiar, não podia ser, aquilo era loucura, o menino era simplesmente eu. Eu estava ali me vendo em criança, agora aquela praça para mim já não era estranha, era aquela praça que na minha infância eu costumava brincar com os meus amigos. Mas como era possível? Como? Não sei dizer, eu fiquei ali sentado vendo uma parte de minha vida sendo rodada como em um filme. Eu chorava de alegria, vendo como eu era feliz, como eu ria, como eu me divertia inesperadamente, um dos meninos veio em minha direção e com uma voz que parecia ser de um anjo falou. _ Veja como a vida não para, não envelhece, ela é e sempre será jovem, assim como somos agora. A felicidade que você vê em nos, esta dentro de você. Ela foi aprisionada em algum momento. Ele pegou a minha mão e me levou diante daquele que deveria ser eu. Aquele menino sorriu para mim e disse: _ Seja feliz, seja amado e ame com intensidade, viva e sorria. Eles se afastaram, e eu fiquei ali sentado vendo-os dobrar uma esquina. Não sei quanto tempo fiquei ali sentado naquele banco de praça, porem quando dei por mim eu estava sentado em minha condução indo para o meu trabalho. Até hoje não consigo esquecer aquela manhã, aquelas crianças e aquela bela mensagem, que passei a usar em minha vida.

 

 

 

 

 

Cesar Garcez
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