O poema da tarde,
leve brisa de verão,
quer ser um alívio
como sopro de vida,
que faz a alma escapar,
num leve suspirar,
do contido peito.

O poema da tarde
é o Sol rubro que se esconde,
é o dançar das folhas,
como bailarinas sensuais,
a convidar a noite
para uma aventura de amor,
acenando mansamente.

O poema da tarde
só quer dizer, sussurrando,
que um dia que vai
prenuncia outro que vem,
e quando despertar seu amor,
há de vir do Oriente,
um raio de luz cruzando o mar.

O poema da tarde
é manso e macio,
pois não provoca ansiedade.
Ao contrário, seu vento quente
faz flutuar com graça
as aves de encontro ao céu,
na derradeira luz que se esvai.

O poema da tarde é liberdade
como o sonho mais belo,
como o desejo mais puro
do braço amado que ampara
o Universo a fugir.
E seu rastro é como de um cometa
que perfuma os devaneios.

O poema da tarde aquece
o sentimento de ternura
pelo corpo querido,
que, doirado, na areia quente,
faz debruçar a existência.
E espera os lábios que fervempara se dissolver no seu ser.

O poema da tarde é um mistério.
E como um sopro de vida
faz romper a carne contida,
quer arrebentar, nostalgicamente,
a prisão de si mesmo.
Quer fundar o paraíso
que para nós, pequeninos, nele moremos.

O poema da tarde, cantam os pássaros,
ao compasso do mar
e ao bailado das palmeiras.
E os que o compreendem
são os que amam,
os que fazem da vida, num instante,
um poema de entrega ao Céu.