Caminhando para o abismo, a simples,
Mas perspicaz casa,
Envolta de ipês amarelos,
Amanhecia meu espírito ao avesso.
Fulgurava diante de mim
A imagem de nossos abraços
Sobre aquela sublime janela.
Parado, à tona me vem aos sentidos
A flor da pele,
O calor daquele dia
E no meu olhar nossa figura transgredia
O limite.

  
(A vê na janela imóvel olhando calmamente para fora, se levanta a vai até ela. As cortinas voam com o vento)
O vento fino que toca nossos rostos agora,
Urgentemente nos entorna o consolo
Da extinção da raça,
Que se limita a nós, a sós (a cheira)
Seu cheiro adocicado e rubro,
Conduz-me, aveluda e arrepia tua nua pele,
(sai detrás dela e se deita)
Vem!?

 
Gritos roucos!
Olhares ferozes,
Intermitentes,
Atordoados,
Pedintes,
Famintos,
Insinuavam também sem demora,
Seu corpo sobre aquele relento,
Que deitava no mesmo embalo
Em que seu corpo castigado
Desfrutava da chegada frequente,
Emergente,
E sempre e desconhecida.
Porém trazia no olhar
A serena calma de um tardo fim,
Imperceptível, mas visível, que custava a chegar.
E meus olhos ainda te olhavam,
Atentos acompanhavam tua astucia derradeira,
Te desenhavam, te abraçavam,
Te olhavam a procura de alguém, além,
Mas seus olhos aos poucos
Fechavam procurando captar
O sumo da vida no faro,
Ao mesmo leve vento que soprava
Em nossos rostos agora úmidos, nos amamos.

 
Garanto que todas as manhãs,
Acordarás, (aponta) assim,
Com lírios amarelos,
Que desenham este caminho
Sinuoso e reto,
Que ao fim, a quimera boreal
Transcenderá a outros nortes.
Aqui, sobre nós a brisa calma eternal,
Cujo fim é sempre continua,
E tua existência será sempre eterna,
Em sumo, a vida.
Elas (apontando as folhas de ipês que formam
um tapete), serão em todas as
Manhãs, nossa fotografia matinal,
Daqui sentiremos seu cheiro leve
E de lá seremos fotógrafos
Que retratam os momentos eternos,
Que congelam os instantes em sempres.
Acordarás com o sol ao ouvido
Sem nada a prometer, só a viver.

 
 Agora retrato meu limite neste caminho deserto,
Que aqui, ali (e agacha e toca o chão),
Deitávamos sobre um tapete amarelo
Que marcava nossos corpos num relevo,
Traduzindo tudo que nós precisávamos.
(se levanta, olha pela última vez sua casa e pelo caminho deserto sem fim, anda)  
 

 

William Baptistella