Pois tendo eu, essa  mão que não é minha,
A escrever, as coisas tantas que não quero
Debalde, tanto mais me desespero,
Mais resoluta, ela prossegue n’outra linha.
 
Petrificada, minha alma queda muda,
Desesperada, cerra a letra, mata a idéia,
Mas, sendo eu, de mim mesmo, só platéia,
Indiferente e alienada me desnuda.
 
Òh Mao alheia, tu não vês, meu pranto corre?
Mas tu nem ligas, sequer escutas, vil micróbio.
Me expondo assim, ao escárnio e ao opróbrio,
Por que serás, maldita Mao, que tu não morre?
 
Óh Deus meu, a minha angustia é tamanha,
Mas não me inclinas teus ouvidos quando rogo,
Apartai, Senhor de mim, a forma estranha.
Por que não morre a Mao alheia, ou morro logo?
 
 
Nota:
Síndrome da mão alheia (síndrome da mão estranha) é um efeito colateral à um problema neurológico onde a pessoa não tem domínio sobre uma das mãos, onde parece que o membro cria vida própria...
(Fonte: Wikipédia)

Poema antigo, escrito durante um episódio de depressão profunda...
BRUNO
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